João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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O Brasil como ele é

O Brasil, como na charge de Tonho Oliveira, parece afundar (num mar de leite condensado), enquanto alguns, protegidos em suas ilhas da fantasia de privilégios, gritam impropérios e palavrões em aglomerações regadas à champagne, sem máscaras, mas mascarados. Eis nossos "Espelho meu, espelho meu" e Retrato de Dorian Gray, explícitos, sem pudor nem compostura. 

Enquanto isso, a variante do vírus mortal se espalha pelo Norte e começa a chegar em Fortaleza, indicando que Manaus realmente foi apenas a largada da nova Via Crucis para os teimosos que recalcitram nos mesmos erros, desde Milão em fevereiro de 2020. Quando essa coisa chegar nos grandes centros densamente povoados do Sudeste e do Sul "como uma (segunda) onda no mar" (de leite condensado), onde comprar oxigênio e para onde mandar os pacientes? Deus nos acuda! Só Ele na causa, mesmo - desde que sem aglomerações em igreja$. E, mesmo assim e sem vacina, ainda querem o retorno das aula$ presenciai$ no Rio Grande do Sul, a pedido do ensino privado. "Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas, da força da grana que ergue e destrói coisas belas". "Brasil, mostra a tua cara! Quero ver quem paga pra gente ficar assim. Brasil! Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio?"

O Bra$il como ele é: o óbvio ululante de Nelson Rodrigues. Na Pátria de Chuteira$ - onde o futebol arte virou futebol negócio, aliado dos "inimigos (que) estão no poder" e os estádios (antes templos do povão da coreia ou da geral) viraram palácio$ ou $hopping center$ de classe média nas cadeiras numeradas e classe alta nos camarotes -, via de regra amontoamos os marginais nas penitenciárias, os desajustados nos hospícios, os velhos nos asilos, os órfãos nos orfanatos e os doentes nos hospitais, sem oxigênio ou sem medicamentos para intubar. A pandemia só fez tornar visível a olho nu todo o nosso pior lado: egoísta e desumano, promotor da desigualdade e cego para o destino de tudo o que dela é produto. "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos" antepassados, herdeiros contumazes que somos do pecado original cometido por eles contra índios e africanos.

A necropolítica neoliberal antivida e antidemocracia ri e debocha, festejando a vitória de 3 bilhões de reais no parlamento pro$tituído indiferente aos 230 mil - "todo mundo morre um dia". Agora chegou a vez das pessoas dos grupos de risco, principalmente os idosos doentes e pobres, aguardarem sua vaga nos cemitérios, amainando o calor do verão em câmaras frias - supremo "ultraje a rigor" para o rigor mortis evitável.

Nunca foi tão literal cantar: "Ideologia, eu quero uma pra viver". Não fosse pelos 54% que boicotaram o Enem, pela vacina do Butantan/China e pelo oxigênio da Venezuela, nem sei o que teríamos a esperançar. "A esperança é a penúltima que morre".
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 05/02/2021
Alterado em 05/02/2021
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