Dia de Reis (Magos)
Hoje é Dia de Reis, o último dia do Natal, pois é quando, pela tradição, desmontamos o presépio e a árvore.
Sabiam que na Bíblia só o Evangelho de Mateus fala neles? E nem os chama de reis, mas de magos. Tampouco diz quantos são, apenas se intuiu serem três devido aos três presentes - o ouro, o incenso e a mirra - que dão ao menino. Só o Evangelho de Lucas também descreve o nascimento de Jesus, mas não menciona os magos, somente os anjos e os pastores. De todo o jeito, com o tempo passaram a ser os Reis Magos do nosso presépio. Depois ainda dariam nome e origem para eles.
Ah, o presépio, ia esquecendo dele. Mateus não menciona o presépio, diz que Maria deu a luz em casa e que os magos, seguindo a estrela, chegaram em Belém e nela entraram. Lucas concorda que foi em Belém, mas fala do presépio e da manjedoura, narrando que José chegou na cidade e não conseguiu hospedagem. Assim, vamos vendo, o nosso presépio é uma versão que somou fatos e personagens das duas versões bíblicas - magos, pastores, bichos - numa só, tirando outros - a casa caiu, em favor da estrebaria e da manjedoura. Mas não termina aí.
É convencionado - Mateus e Lucas não o afirmam - que Jesus nasceu no dia 25 de dezembro e que os magos chegaram na casa dia 6 de janeiro. Logo, os magos não deveriam estar no presépio, não é mesmo? O presépio representa o nascimento de Cristo e eles chegaram dias após. E, se os magos deram os presentes no dia 6 e isso foi uma das inspirações para os presentes natalinos, então esses deveriam ser dados - como o era, em tempos idos - hoje, e não após a meia noite do dia 24 ou no amanhecer do dia 25, estando embaixo do pinheirinho, deixados pelo Papai Noel. Pinheirinho? Papai Noel? Tá, na narrativa de Mateus e Lucas esses não estão, surgiram pela tradição.
E como estamos falando da tradição, sabem quem deu nome e endereço para os magos, a essa altura já conhecidos como Reis Magos? Um Doutor da Igreja Católica (1): São Beda, o Venerável (673 - 735), que nasceu, viveu e morreu na Inglaterra. Assim Beda os nomeou e descreveu: "Belchior (2) era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz". De onde o Venerável Beda tirou isso (3)? Ah, não me perguntem onde fica o Alegrete, essa é uma crônica de jornal, não uma tese de doutorado.
Contudo, hoje é o dia 6 de janeiro, Dia de Reis (Magos) - feriado em muitos países europeus e por aqui o foi até 1967 -, e a noite passada foi a última na qual, pela tradição, as luzinhas ainda podiam piscar. Eu disse: pela tradição. Particularmente, sou uma pessoa bem tradicional no que tange ao Natal e, portanto, passarei o dia desmontando tudo. O que realmente importa é que o menino nasceu, deixou a Palavra no mundo e ela frutificou e frutifica até nossos dias. Imantemo-nos do Espírito do Natal e reproduzamos sua amorosidade caridosa durante o ano.
NOTAS:
(1) - "Um ‘doutor’ é alguém reconhecido pela Igreja Católica como exemplo de 'santidade de vida, ortodoxia doutrinal e ciência sagrada' " - site Agência Ecclesia. São trinta e seis - trinta e dois homens e quatro mulheres -, dentre eles Santo Agostinho, São Jerônimo, São Tomás de Aquino, Santo Afonso Maria, São Francisco de Sales, São João da Cruz, Santo Antônio, Santa Teresa, Santa Teresinha, Santa Catarina Sena e São Beda, que foi proclamado doutor em 1899 pelo papa Leão XIII.
(2) - Também o encontramos sendo chamado de Melchior ou Melquior.
(3) - Transcrição de trechos de texto do site Kerigma Católica News, a fim de dar um pouco mais de informações sobre a tradição referente aos Magos: "A Escritura diz 'uns magos', que não seriam, portanto, reis nem necessariamente três mas, talvez, sacerdotes da religião zoroástrica da Pérsia ou conselheiros. (...) Talvez fossem astrólogos ou astronomos. (...) A melhor descrição dos reis magos foi feita por São Beda, no seu tratado 'Excerpta et Colletanea'. (...) Quanto a seus nomes, Gaspar significa 'Aquele que vai inspecionar', Melchior quer dizer: 'Meu Rei é Luz', e Baltazar se traduz por 'Deus manifesta o Rei'. Como se pretendia dizer que simbolizavam os reis de todo o mundo, representariam as três raças humanas existentes, em idades diferentes. Segundo a mesma tradição, Melchior entregou-Lhe ouro em reconhecimento da realeza; Gaspar, incenso em reconhecimento da divindade; e Baltazar, mirra em reconhecimento da humanidade. A exegese vê na chegada dos reis magos o cumprimento a profecia contida no livro dos Salmos (Sl. 71, 11): 'Os reis de toda a terra hão de adorá-Lo'. Devido ao tempo passado até que os Magos chegassem ao local onde estava o menino, por causa da distância percorrida e da visita a Herodes, a tradição atribuiu à visitação dos Magos o dia 6 de Janeiro. Algumas Conferências Episcopais decidiram, contudo, celebrar a festa da Epifania no primeiro domingo de Janeiro (quando não coincide com o dia 1). (...) Em diversos países a principal troca de presentes é feita não no Natal, mas no dia 6 de Janeiro, e os pais muitas vezes se disfarçam de reis magos."