Nicette Bruno e as pessoas dos grupos de risco
Aqui para o Portal de Notícias procuro na maioria das vezes escrever crônicas que sejam de alguma forma úteis para as pessoas e que abordem assuntos da cidade onde resido e das regiões Carbonífera ou da Metropolitana. Devido ao isolamento social, fica difícil escrever coisas sobre a cidade, eis que isso exige que circulemos por ela com o olhar atento sobre a realidade cotidiana, captando seus textos, subtextos e contextos, a matéria prima mor para os cronistas. Sobra o outro critério e, mesmo sendo o falecimento da atriz Nicette Bruno um tema nacional, acerca do qual muito se escreveu na grande imprensa, entendo útil neste momento também redigir e publicar algo sobre, eis que a pandemia a todos abarca, inclusive a nós.
É muito difícil para as famílias pobres fazerem o isolamento social das pessoas dos grupos de risco, como os idosos, eis que geralmente moram numa mesma residência e não possuem mais de um banheiro e, pior ainda, nem um quarto só para a pessoa, impossibilitando também o tal "isolamento vertical", de eficácia muito questionada pelos epidemiologistas - no RS, estudo do governo estadual mostrou que a maior parte do contágio se dá dentro das casas. Isso é muito triste. Todavia, há os que podem fazer isso, e a atriz Nicette Bruno era uma delas: manteve um rigoroso isolamento social por dez meses, conforme disse sua filha à imprensa. Porém, bastou um descuido e ela virou notícia de obituário e estatística de óbito por Covid-19. Um único descuido em dez meses!
Recebeu a visita de um parente em sua casa. A pessoa estava assintomática, não sabia que portava o vírus. Logo, isso mostra que PESSOAS DOS GRUPOS DE RISCO NÃO PODEM RECEBER VISITAS OU SAIR DE CASA, POIS PODEM MORRER POR CAUSA DISSO. Não, não "GRITEI" isso em CAPS LOCK, destaquei em caixa alta como o mestre Bukowski fazia quando queria ressaltar algo importante em seus textos. E isso, para mim, é muito importante, demais. E agora, período de Natal, onde os parentes vão se reunir, isso mostra que as pessoas tem de tomar extremo cuidado, serem rigorosas ao observarem os protocolos de segurança. O Natal é festa de vida, de nascimento e de amor, não de morte, sendo nossa responsabilidade zelar para que isso não vitime as pessoas que amamos, por "descuido" nosso. Ou depois que acontecer algo parecido com o caso de Nicette, adiantará alguma coisa pedir "desculpas" e dizer que "não sabia", que foi "sem querer"? Não. Nesse momento só o que adianta é observar os protocolos, evitando a contaminação.
Nicette Bruno estava com 87 anos. Minha tia-avó e madrinha viveu 101 anos. Logo, comparando, poderiam ser mais 14 anos de vida pra ela. A gente não tem como saber, né? O que a gente sabe hoje, concretamente, é que bastou um vacilo para ela morrer e que isso vale para todos nós. E o mais triste e revoltante é ainda ver pessoas nas redes sociais minimizando e negando a gravidade dessa pandemia, fazendo isso com clara motivação política ou econômica, secundarizando a importância de defender, sobretudo, a vida humana nos dias atuais.
Deus os perdoe por isso. E que proteja e ampare a todos nós. E que nós nos cuidemos para cuidar daqueles que amamos e que, por suas condições, correm risco de vida.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 22/12/2020
Alterado em 22/12/2020