João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Crônica dos filmes de Natal

Ontem à noite choveu forte, hoje de dia simplesmente choveu e também fez sol. Chuva e sol, casamento de espanhol. Com a chuva, a atividade com os ornamentos natalinos do pátio fica prejudicada. Então o que a gente faz aqui em casa? Vamos pra Netflix assistir filmes de Natal.

Vou na busca, digito a palavra Natal e vejo o que vem e fico pesquisando, lendo os resumos e conferindo o trailer do que desperta interesse. São muuuiiitaaasss opções, praticamente uma para cada dia até o 25 de dezembro. Já assisti três desde o dia 1º e cheguei a conclusão de que vi três vezes o mesmo filme. "Todos iguais, mas uns mais iguais que os outros", como cantou o Humberto. A estrutura deles é exatamente a mesma: no período natalino, uma loira jovem de olhos azuis, de uma cidade grande, em dúvida quanto a seus rumos profissionais - baseando-se na bem sucedida carreira paterna - e emocionais, viaja para uma cidade do interior por algum motivo e lá se reencontra e encontra o amor, um cara castanho que já morou na cidade grande, desiludiu-se e voltou a morar no interior.

O que muda? Os detalhes: a primeira loira é a herdeira de uma empresa de cartões em New York, viaja à cidadezinha interiorana para realizar uma missão que o pai lhe confia e lá descobre os valores da amizade, simplicidade e altruismo, sendo seu par romântico o rapaz que é dono do hotel local e que trabalhou numa corretora em New York, onde sofreu uma desilusão amorosa; a segunda loira é médica residente num grande hospital de San Francisco e filha de um renomado cirurgião que ela admira e deseja seguir os passos - busca uma vaga no melhor centro cirúrgico de Boston -, mas acaba indo para uma acolhedora cidade remota no Alasca trabalhar como clinica geral num pequeno hospital, sendo o par romântico o jovem filho do maior empresário local, que estudou arquitetura em Seattle e agora é o faz tudo da comunidade; e a terceira loira é uma pintora que saiu de sua cidade na Pensilvânia para tentar a sorte em New York, onde trabalha como curadora de uma galeria de arte e, por um motivo familiar banal, volta para o interior e reencontra o seu namorado de colégio, um professor de história que tentou a sorte no hóquei profissional, mas uma lesão no joelho acabou com seus sonhos. Esse último considerei o melhor dos iguais.

É sempre a mesma fórmula, mas funciona e rende, assim como Conde de Foucauld, Polar e Coca Cola Zero. Todos trazem a mesma mensagem: a vida e o amor são coisas simples que se pode encontrar nas coisas simples com simplicidade, simples assim. Parecem muito com aquelas revistas antigas pra mulheres, as Júlia, Sabrina e Bianca. Lembram delas? Eu lembro: lia e constatei que sempre possuíam estruturas parecidas, variando os detalhes. Quando cursei Sociologia isso me ajudou muito, pois já estava treinado para descobrir a estrutura do pensamento teórico dos autores, perscrutar suas referências basilares, o que ajudava muito para entendê-los, era o mapa da mina.

Esses são alguns dos filmes de Natal versão white; há também os versão black, que ainda não olhei. Todos norteamericanos, cheios de neve e coisa e tal, com exceção de um, que é brasileiro. Tem filme de Natal para tudo o quanto é gosto: romântico, aventura, comédia, fábula, desenho e por aí vai. É uma boa pedida para absorver o bom espírito natalino, fazer uma autocrítica e ver se nos tornamos seres mais humanos e menos materialistas durante o ano. Vai que, né?

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 03/12/2020
Alterado em 03/12/2020
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