João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Como era gostosa a minha strato

O que tu mais gosta de morder nessa vida? Ah, a minha strato, claro! Delícia...

Com certeza seria essa a resposta de James Marshal, notório apreciador do icônico modelo das guitarras Fender Stratocaster. Vivia com ela nas mãos e na boca. Sério, fato, é verdade! Claro que nesse ponto vocês já sacaram que estou a falar aqui do genial Jimi Hendrix, o fenomenal e incendiário guitarman norteamericano nascido - paradoxalmente - em 1942 na fria e chuvosa Seattle do Nirvana e de Grey"s Anatomy, cujo cinquentenário de falecimento deu-se dia 18 de setembro desse ano. Eis ele namorando sua amada, beijando-a, mordendo-a e virando-a do avesso, para vocês verem que não é totó meu: https://www.youtube.com/watch?v=4afHutn4LJY

Mesmo 50 anos depois de seu desaparecimento, ele continua sendo o mais celebrado guitarrista da breve história do rock e da guitarra elétrica, com sua musicalidade, virtuosismo técnico e visceralidade performática ainda ressoando com dignidade, assombro e encantamento. Adjetivos, que quase sempre são exagerados ou metafóricos, no caso de Hendrix corporificam suas qualidades. Eu obviamente também o coloco como número um do instrumento, mas ao lado do holandês voador Eddie Van Halen (1955 - 2020), outro guitarrista revolucionário e inovador que adorava fazer uma strato gemer, gritar, rugir e entrar em errupção em suas mãos. Aliás, fez uma strato só para si, a Frankenstrat, mistura frankensteiniana de Fender Stratocaster com Gibson Les Paul. Pesquisem pra verificar a inventividade que foi essa ideia.

Hendrix emulou o som dos grandes guitarristas de seu tempo, e vejam que estamos falando da nata do rock inglês: Jimmy Page (Led Zeppelin), Eric Clapton, Jeff Beck e Pete Townshend (The Who). Conta a "estória" que Pete estava saindo em estado de choque de um show de Hendrix em Londres e encontrou Eric "Is god" Clapton aguardando na fila para a segunda sessão. Disse-lhe: Cara, se eu fosse você não entraria aí. Mas Clapton "Is god", um "strateiro" (1) como Hendrix, não deu bola, claro, e entrou. Diz, agora a lenda, que ele ficou uns meses sem tocar no instrumento após a performance inimaginável e sem precedentes que assitiu, pois viu que fora rebaixado a posição de semideus da guitarra: Hendrix is god, now! Townshend avisou...

Ao lado de Hendrix/Halen não tem ninguém, mas, abaixo deles, podemos citar outros que trouxeram uma contribuição original digna para a guitarra: pioneiramente, o norteamericano Lester "Les Paul" Willians Polsfulss (1915 - 2009), virtuoso que possui o mérito de ser o primeiro inovador do instrumento, inspirador da Gibson Les Paul, modelo de guitarra que faz par com as Fender (2) como os tipos clássicos mais famosos de guitarra elétrica; o estadunidense Stanley Jordan, que não é um "strateiro", um músico conhecido mas não tão popular quanto os dois acima citados, foi quem desenvolveu a técnica do "two hands" (duas mãos) de Eddie a um nível artistico elevadíssimo, acrescentando uma linguagem técnica nova para a guitarra, excutando-a como se fosse um piano - o brasileiro Marcinho Eiras, que tocava na banda do Faustão (vejam só), é um mestre nesse estilo. Diria que esses quatro foram os "divisores de águas" na história da eletric guitar. Daria menção honrrosa a outros dois: o sueco Yngwie Malmsteen, outro "strateiro" que ficou famoso pela super velocidade e pelas linhas eruditas nas seis cordas elétricas, aperfeiçoando um caminho aberto pelo inglês gremista - juro, é verdade, googlem pra ver -  e "strateiro" Ritchie Blackmore (Deep Purple); e o grande, fenomenal, perfeito e surreal Steve Vai, aquele que considero ser o maior guitarrista de rock vivo, outro "strateiro", tipo Ibanez.

Hendrix, o cara que beijava e mordia sua amada e gostosa guitar Fender Stratocaster, a gente olha e acha que não existirá nunca mais outro igual, 50 anos após ele partir desse plano físico. Mas o cuera, quando nasce pra coisa, mas bah, tchê bagual, já a aprecia mesmo ainda estando no colo e nas fraldas. Sempre tem alguém surgindo por aí, mostrando que a genialidade se renova e que um novo "Is god" está para pintar na cena musical guitarreira qualquer dia desses de sol depois da chuva, sentindo o gosto de uma strato e a fazendo encantar nossos ouvidos.


Notas:
(1) - Quando escrevo aqui que o guitarrista é "strateiro", afirmo unicamente que ele usa guitarras com o mesmo visual clássico da Fender Stratocaster, embora o som, na maioria das vezes, não seja o típico timbre de uma strato, eis que os músicos customizam seus instrumentos, alterando a captação e a ferragem das mesmas. Bom esclarecer esse detalhe, evitando confusões. Um estudo sobre isso ajudaria muito aos interessados neófitos.
(2) - Leo Fender (1909 - 1991), não era músico, apenas fabricante de instrumentos musicais.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 21/10/2020
Alterado em 23/10/2020
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