Sofrônio, o mal-humorado
Há exatos 1.600 anos falecia Sofrônio de Estridão, um ermitão que adquiriu duas grandes famas durante a sua vida: a de grande erudito e a de mal-humorado. Iniciemos pela primeira.
Sofrônio nasceu no ano de 347, na província romana da Dalmácia. Uma de suas representações, a que ilustra esse texto, é do pintor alemão Albrecht Dürer, realizada no ano de 1524. O seu grande feito, descomunal, um trabalho de muitos anos que ecoa até nosso tempo, foi traduzir para o latim a Bíblia, versão que ficou conhecida como Vulgata. Culto, entendia de grego e hebraico e muito se dedicou aos estudos teológicos, o que lhe valeu o reconhecimento como doutor da Igreja Católica, o mais prolífico do cristianismo antigo, depois de Santo Agostinho, devido a vasta obra que deixou. Aliás, também é santo. Estou escrevendo, claro, sobre São Jerônimo, esse mesmo que nomeia a cidade da Região Carbonífera que hoje completou 159 anos. Sabiam que o primeiro nome dele era Sofrônio?
Durante sua vida, boa parte dela vivida como eremita, ganhou a fama de mal-humorado, por ser radicalmente contra comportamentos mundanos ou hedonistas e falar o que pensava sem usar meios termos ou atenuantes. Em Roma, foi um crítico contundente do clero secular de seu tempo, mas a proteção do papa Dâmaso garantia que tal temperamento e sua língua sem freio não lhe trouxessem problemas. Isso até o ano de 384, com a morte do pontífice. Então partiu para a Terra Santa, a fim levar uma vida ascética de estudo e escrita. Junto com ele, foram Paula e sua filha Eustóquia, suas ricas e aristocráticas seguidoras e financiadoras. Paula, inclusive, virou santa.
Em seus anos finais se estabeleceu em Belém, na Palestina, onde morreu em 30 de setembro de 420. O mal-humorado Sofrônio - o culto São Jerônimo - é o padroeiro dos estudiosos da Bíblia, arqueólogos, arquivistas, bibliotecários e tradutores, sendo que o Dia da Bíblia para os catóicos é, não por acaso, 30 de setembro.
Texto publicado dia 30 de setembro de 2020 nos sites www.souzaguerreiro.com e no Recanto das Letras.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 30/09/2020
Alterado em 01/10/2020