João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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O sr Spock morava na Colônia

Nos anos 1970 a Colônia era um lugar bom de morar, totalmente autossuficiente. Queria arrumar briga por lá? Fácil: era só chegar por ali e dizer que a Colônia era Charqueadas... Pau na certa!

Para os nascidos na Colônia, por parteiras como dona Gessi Quadros, Charqueadas era outra cidade. Para se ter uma ideia, nós tínhamos nossa própria Pira da Pátria e nosso próprio desfile de 7 de Setembro na Semana da Pátria. Todos estudávamos na Escola Ramiro Fortes de Barcellos da dona Chiquita e do seu Darci. Quem cuidava do transformador de luz e da estação de tratamento de água era o seu Jari. Frequentávamos ecumenicamente a igreja do padre Vilmo e terreira do seu Caldeira. Jogávamos no campo ao lado da penitenciária e vibrávamos com o clássico local, Americano x Ajax. Tomávamos banho no rio Jacuí e explorávamos o Casarão - o Solar dos Barcelos. Idas "lá em Charqueadas", só para fazer rancho no São Roque.

Na Colônia autossuficiente dos anos 1970 todo mundo vivia misturado e tu era ou filho de brigadiano, ou de agente penitenciário ou de preso do semi-aberto ou liberto que por lá residiam com suas famílias. A maioria das mães eram professoras ou donas de casa, pelo que me lembro. Mineiros e metalúrgicos eram o pessoal aquele "lá de Charqueadas". E todos curtiam os seriados de TVs nos aparelhos P&B valvulados da época, dentre eles, obviamente, Jornada nas Estrelas. E, não sei se vocês sabiam, mas o senhor Spock, oficial de ciência da nave Enterprise, morava na Colônia. Sério! É fato, juro que não é mentira minha. É uma meia-verdade.

Havia um garoto lá, um pouco mais velho que eu, que era alto, magro, rosto fino e possuía orelhas notadamente pontudas. Todos o chamavam de Spock. Nunca ouvi ninguém chamá-lo pelo nome - desconfio que até seus pais o chamavam de Spock. Só fui saber seu nome depois de adulto. Claro, o nosso Spock era um sósia, mas, pela aparência, bem que poderia passar por um nativo do planeta Vulcano, como o original. Porque lembrei deles hoje, dos Spocks?

Bom, estou olhando na Netflix as três temporadas da série de TV Jornada nas Estrelas, que foi produzida no final dos anos 1960 e que passava no Brasil nos 1970 de minha infância. Num dos episódios que acompanhei ontem - Síndrome da Imunidade -, da segunda temporada, a Entrerprise, numa de suas aventuras  - pelo "espaço: a fronteira final", onde, "em sua missão de cinco anos (...), audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve" - se vê envolvida com um vírus espacial gigante que havia destruído vários planetas, absorvendo-os. Inescapavelmente atraída para dentro do mesmo, sua tripulação tem poucas horas para achar uma forma de identificá-lo e desativá-lo, salvando o próprio pescoço e as galáxias vizinhas. É o senhor Spock, junto com o doutor McCoy, que auxilia o capitão Kirk a criar uma "vacina" contra a criatura.

Assim, obviamente, peguei-me divagando em como um senhor Spock, hoje, nos ajudaria... Claro, a vida não é ficção científica e, por aqui, na realidade de nosso tempo e espaço, a ciência do presente caminha a passos mais lentos do que "era e será" nos anos 2.200, período em que "viveu e viverá" o sr Spock. O Spock da Colônia, por sua vez, se tornou PM, já está aposentado e, como eu, mora "lá em Charqueadas", agora. Acho que poucos ainda o chamam de Spock. O tempo passa. "Vida longa e próspera" para todos.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 11/09/2020
Alterado em 11/09/2020
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