João Adolfo Guerreiro
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"Eu sabia, ia ter que intubar ela"

"Temos que mostrar força. E mostrar força não é o mesmo que não admitir que nós temos medo, mostrar força é comparecer" - Jule Santos.

Hoje trago um segundo depoimento de Jule Santos, escritora e médica de urgência que trabalha no Distrito Federal. É autora do livro "Veronika Maran - Born to be wild", lançado em 2018 pela editora Multifoco, justamente contando a história de uma médica e de seu cotidiano numa emergência do SUS. O depoimento a seguir é atual, retirado de postagem feita no Facebook.

7 DE JUNHO, HOSPITAL REGIONAL SANTA MARIA - DF

Assim que entrei no quarto eu sabia, ia ter que intubar ela.
Ela brigava com todas as forças contra o medo para respirar.
A examinei, perguntei o essencial, olhei a gasometria e expliquei o que a gente ia fazer.

- E o bebê?
Ela tinha acabado de descobrir que estava grávida.
- Agora nós temos que cuidar de você.
- Doutora, por favor, não posso morrer. Eu tenho 3 filhos que dependem de mim e eu estou com medo, por favor, me ajuda.

Liguei para o marido e para a mãe dela, expliquei o que estava acontecendo e o que seria feito. E eles conversaram com ela. Ela deu orientações para ser feito pelas crianças e se despediu dizendo que os amava.
- Doutora, me promete que eu vou sobreviver, que eu vou acordar?
Travei por um segundo, depois apertei a mão dela de volta e disse a verdade:
- Nós vamos fazer todo o possível para te ajudar a melhorar, eu prometo.
Eu amo esse emprego, e tenho orgulho da médica que me tornei.


Texto publicado no site do jornal Portal de Notíciashttps://www.portaldenoticias.com.br/colunista/53/cronicas-artigos-joao-adolfo-guerreiro/
João Adolfo Guerreiro e Jule Santos
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 22/07/2020
Alterado em 25/07/2020
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