Zafón
São 11h30min, início de inverno e faz um calor de verão em Charqueadas nesse Dia de São João. As pessoas circulam trajando roupas leves, alguns até sem camisa, aqui pela frente da minha casa, mas todas com máscara. Aliás, acabou de passar um carro de som com anúncio da prefeitura pedindo para que todos "façam a sua parte" durante a vigência da bandeira vermelha. Mas não foi para falar dessas coisas que hoje escrevo, mas sim sobre o escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón. Já ouviu falar dele?
Eu, até um dia qualquer da primeira quinzena de novembro de 2011, não. Então veio aqui em casa a jornalista Viviane Bueno fazer uma entrevista comigo, justamente para o Portal de Notícias (não escrevia para o jornal ainda), sobre minha coleção de HQ's do Tex. Lá pelas tantas perguntou se eu gostava de literatura, que autores apreciava, essas coisas. Devolvi a pergunta pra ela, que me falou do Zafón e do seu livro A Sombra do Vento. Daí foi comprar e ler para entrar no mundo do autor da tetralogia O Cemitério dos Livros Esquecidos. O cara é maravilhoso, A Sombra do Vento é um dos grandes livros da litertura mundial. Virei fã e comprei e li tudo dele, antes de A Sombra e o que saiu depois.
Antes, tem a "Trilogia da Névoa", que são os livros juvenis da década de 1990 O Príncipe da Névoa, O Palácio da Meia-Noite e As Luzes de Setembro. Agora, se eu tivesse de indicar um livro de Zafón para as pessoas lerem antes de A Sombra do Vento, seria Marina, de 1999. Na edição brasileira pela Suma das Letras, de 2011, o escritor mesmo diz: "De todos os livros que publiquei desde que comecei nesse trabalho de escritor, Marina é um dos meus favoritos. É possivelmente o mais indefinível e difícil de categorizar de todos os romances que escrevi, e talvez o mais pessoal de todos eles". Não vou discorrer sobre a história, só vou indicá-la como porta de entrada para a literatura de Zafón.
Não que seja uma leitura pré-requisito para a publicação posterior, A Sombra do Vento, seu grande romance, de 2001, publicado quando tinha a idade de 37 anos e que já foi traduzido para cinquenta idiomas, tendo vendido mais de 15 milhões de exemplares em todo o planeta. A Sombra do Vento inaugura a tetralogia que ainda tem O Jogo do Anjo, O Prisioneiro do Céu e o Labirinto dos Espíritos. É chamada de "tetralogia do Cemitério dos Livros Esquecidos" pois todos os personagens, através do tempo, circulam por uma Barcelona das primeiras décadas do século passado e tem como ponto de convergência uma biblioteca secreta. Mais não revelo. Mas digo: se fores ler somente um livro dele, que seja A Sombra do Vento.
Na sexta-feira passada, 19, fui surpreendido pela notícia da morte de Zafón, aos 55 anos, de câncer. Um ciclo produtivo literário encerrado muito precocemente, mas a legar uma obra que, acredito, será lida por muito tempo, ainda. Recomendo.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 24/06/2020
Alterado em 24/06/2020