João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Textos
Eurico Lara, o craque Imortal
Hoje pela manhã abri o Messenger e encontrei mensagem de um amigo. Um vídeo do Instagram, mas estava todo preto, sem imagem. Como a pessoa era de confiança, cliquei e abri. Ainda bem, senão tinha passado batido pela notícia dos 100 anos do primeiro jogo de Eurico Lara pelo Grêmio.
Quem foi Eurico Lara? Bom, se você é gremista e já ouviu o hino que Lupicínio Robrigues compôs para o clube em 1953 (o terceiro de sua histótia, o que ficou até nossos dias), lembra daquela parte "Lara o craque imortal, soube teu nome elevar...". Eurico nasceu em Uruguaiana em 24 de janeiro de 1897 e foi lá mesmo que começou a jogar futebol, como goleiro do time do quartel onde era lotado.
Sobrevivente da gripe espanhola, que em 1918 assolou o planeta tal qual a Covid-19 faz agora - é só ver o recorte de jornal de 1918 acima, que retirei de uma postagem da atriz Tássia Camargo -, veio para o Grêmio em 1920. Sem querer vir. Os dirigentes gremistas souberam que no quartel de Uruguaiana havia um "arqueiro" que pegava todas, fora de série, e foram atrás. Só que o soldado magro e alto não estava por essas de jogar bola em Porto Alegre, preferia ficar por lá mesmo. Buenas, como os tricolores desejavam muito o atleta, usaram de sua influência para transferí-lo para Porto Alegre. Então ele teve de vir. Sua estreia foi há exatos 100 anos, num "match" entre Grêmio e Juventude de Caxias no Fortim da Baixada, primeiro estádio do Tricolor. E ficou pelo clube mesmo, morando numa casa anexa ao estádio, mantendo-se como soldado (participou da Revolução de 1930).
Virou lenda. Foram 15 anos de Grêmio. Seu último jogo foi em 22 de setembro de 1935, no Grenal comemorativo ao centenário da Revolução Farroupilha onde, já tuberculoso, atuou no primeiro tempo, contrariando as recomendações médicas. Assim, se aposentou dos gramados campeão, pois o Grêmio bateu o rival por 2x0. Dali foi direto para o hospital, de onde chegou a receber alta, tendo ainda atuado como árbitro em duas partidas. Todavia, em 6 de novembro o valente Eurico tombou, acamado no hospital Beneficiência Portuguesa. Escapou da gripe que matou mais de 50 mihões de pessoas no mundo, 300 mil no Brasil - inclusive o presidente Rodrigues Alves - e 30 mil no Rio Grande do Sul (*), mas não resistiu à doença que tembém levou, ainda muito jovem, o sambista Noel Rosa.
Embora possa parecer paradoxal que um homem falecido aos 38 anos seja chamado de "imortal", o fato é que não é o tempo que passamos por aqui o que conta para a história, mas sim como passamos por aqui - o que nos "imortaliza". E Lara foi grande, tanto que seu nome até hoje é lembrado e, mesmo após vinte anos de seu falecimento, tenha sido o único atleta da história do então cinquentenário clube a ser citado no hino de Lupicínio. E não só pelo seu desempenho ímpar como atleta.
Eu gosto muito de ler jornal impresso, então uma das coisas de que mais sinto falta, ao cumprir à risca os rigores dos protocolos contra essa pandemia, é de ir na lancheria da rodoviária tomar café e ler um jornal com meus amigos da Confraria do Café com Jornal sem Carro. Entretanto, um dos confrades, o Sérgio, manda buscar seus jornais para ler em casa e, gentilmente, enviou hoje para mim, digitalizada, a coluna do David Coimbra do final de semana. Nessa edição de Zero Hora, o jornalista escreveu sobre Lara e ressaltou uma grande virtude pela qual Eurico era respeitado e admirado: sua integridade. Era honesto, com um comportamento moral irretocável. Se cometesse uma irregularidade não vista pelo juiz, parava o jogo e a indicava. Da mesma forma, fazia com que até os adversários o imitassem.
"Eis o homem", como disse outro grande gremista, o saudoso cronista gaúcho Paulo Sant'Ana, em seu último livro. Fica o registro.
https://www.portaldenoticias.com.br/colunista/53/cronicas-artigos-joao-adolfo-guerreiro/Texto publicado no site do jornal Portal de Notícias:
(*) - Jornal Correio do Povo: Surto de gripe espanhola completa 100 anos. 14 set 2018, Disponível em: https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/mundo/surto-da-gripe-espanhola-completa-100-anos-1.271792
Hoje pela manhã abri o Messenger e encontrei mensagem de um amigo. Um vídeo do Instagram, mas estava todo preto, sem imagem. Como a pessoa era de confiança, cliquei e abri. Ainda bem, senão tinha passado batido pela notícia dos 100 anos do primeiro jogo de Eurico Lara pelo Grêmio.
Quem foi Eurico Lara? Bom, se você é gremista e já ouviu o hino que Lupicínio Robrigues compôs para o clube em 1953 (o terceiro de sua histótia, o que ficou até nossos dias), lembra daquela parte "Lara o craque imortal, soube teu nome elevar...". Eurico nasceu em Uruguaiana em 24 de janeiro de 1897 e foi lá mesmo que começou a jogar futebol, como goleiro do time do quartel onde era lotado.
Sobrevivente da gripe espanhola, que em 1918 assolou o planeta tal qual a Covid-19 faz agora - é só ver o recorte de jornal de 1918 acima, que retirei de uma postagem da atriz Tássia Camargo -, veio para o Grêmio em 1920. Sem querer vir. Os dirigentes gremistas souberam que no quartel de Uruguaiana havia um "arqueiro" que pegava todas, fora de série, e foram atrás. Só que o soldado magro e alto não estava por essas de jogar bola em Porto Alegre, preferia ficar por lá mesmo. Buenas, como os tricolores desejavam muito o atleta, usaram de sua influência para transferí-lo para Porto Alegre. Então ele teve de vir. Sua estreia foi há exatos 100 anos, num "match" entre Grêmio e Juventude de Caxias no Fortim da Baixada, primeiro estádio do Tricolor. E ficou pelo clube mesmo, morando numa casa anexa ao estádio, mantendo-se como soldado (participou da Revolução de 1930).
Virou lenda. Foram 15 anos de Grêmio. Seu último jogo foi em 22 de setembro de 1935, no Grenal comemorativo ao centenário da Revolução Farroupilha onde, já tuberculoso, atuou no primeiro tempo, contrariando as recomendações médicas. Assim, se aposentou dos gramados campeão, pois o Grêmio bateu o rival por 2x0. Dali foi direto para o hospital, de onde chegou a receber alta, tendo ainda atuado como árbitro em duas partidas. Todavia, em 6 de novembro o valente Eurico tombou, acamado no hospital Beneficiência Portuguesa. Escapou da gripe que matou mais de 50 mihões de pessoas no mundo, 300 mil no Brasil - inclusive o presidente Rodrigues Alves - e 30 mil no Rio Grande do Sul (*), mas não resistiu à doença que tembém levou, ainda muito jovem, o sambista Noel Rosa.
Embora possa parecer paradoxal que um homem falecido aos 38 anos seja chamado de "imortal", o fato é que não é o tempo que passamos por aqui o que conta para a história, mas sim como passamos por aqui - o que nos "imortaliza". E Lara foi grande, tanto que seu nome até hoje é lembrado e, mesmo após vinte anos de seu falecimento, tenha sido o único atleta da história do então cinquentenário clube a ser citado no hino de Lupicínio. E não só pelo seu desempenho ímpar como atleta.
Eu gosto muito de ler jornal impresso, então uma das coisas de que mais sinto falta, ao cumprir à risca os rigores dos protocolos contra essa pandemia, é de ir na lancheria da rodoviária tomar café e ler um jornal com meus amigos da Confraria do Café com Jornal sem Carro. Entretanto, um dos confrades, o Sérgio, manda buscar seus jornais para ler em casa e, gentilmente, enviou hoje para mim, digitalizada, a coluna do David Coimbra do final de semana. Nessa edição de Zero Hora, o jornalista escreveu sobre Lara e ressaltou uma grande virtude pela qual Eurico era respeitado e admirado: sua integridade. Era honesto, com um comportamento moral irretocável. Se cometesse uma irregularidade não vista pelo juiz, parava o jogo e a indicava. Da mesma forma, fazia com que até os adversários o imitassem.
"Eis o homem", como disse outro grande gremista, o saudoso cronista gaúcho Paulo Sant'Ana, em seu último livro. Fica o registro.
https://www.portaldenoticias.com.br/colunista/53/cronicas-artigos-joao-adolfo-guerreiro/Texto publicado no site do jornal Portal de Notícias:
(*) - Jornal Correio do Povo: Surto de gripe espanhola completa 100 anos. 14 set 2018, Disponível em: https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/mundo/surto-da-gripe-espanhola-completa-100-anos-1.271792
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 15/06/2020
Alterado em 23/06/2020
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