DIA DO TRABALHADOR lutar pela vida
Não vou nesse momento contar aquela história que todo mundo sabe, mas ou que já esqueceu ou que não se importa, de que a origem do Dia do Trabalhador está ligada à luta por direitos dos operários durante o século XX. O que temos hoje, e o muito que perdemos no Brasil nos últimos cinco anos, não vieram do nada, foram construídos com a luta de muitos, a custo da própria vida, inclusive.
A vida, eis sobre o que eu quero escrever hoje. Existir é uma dádiva. Viver é um privilégio. Entretanto, juntemos as duas coisas na palavra vida. Sem vida, nada nos importa. Viver é, portanto, fundamental, essencial. Nada se coloca, a princípio, acima da vida. Poucas coisas e renúncias justificam arriscar a vida. Nesse Dia do Trabalhador, mais importante que a luta pelo pão, é a luta pela vida. Morreremos de fome sem o pão, mas não comeremos o pão se estivermos mortos. E, atualmente, não é o perigo da fome que coloca em risco a vida dos trabalhadores, mas sim a pandemia.
Como não há remédio ou vacina para a covid-19, o isolamento social é a única forma que, pelo visto na experiência de outros páises, atenua de fato o espalhamento do vírus causador. Há medidas mais extremas, como a quarentena e o lockdown, mas o isolamento já nos permite um resultado satisfatório, se for cumprido pela sociedade com o apoio das esferas de governo municipal, estadual e federal.
Há os que dizem que a economia deve ser priorizada, mas esses colocam em perigo a vida das pessoas situadas nos grupos de risco, insofismavelmente. Não há como priorizar, nesse caso, a vida e a economia simultaneamente, tentar as duas coisas é, na prática e de fato, secundarizar a vida, arriscando-a. E podemos observar que, pela realidade que vemos no Brasil e no mundo, são os mais pobres os que ficam mais expostos à pandemia, por motivos vários decorrentes de sua situação sócio-econômica que nem me darei ao trabalho de discorrer aqui por entender o leitor uma pessoa inteligente, que sabe disso, por se tratar do óbvio ululante.
Então, a prioridade deve ser a vida e, assim sendo, o isolamento social é a medida "menos extrema" que tem se revelado eficaz. Não que o temor pela ruína financeira não seja justo e pertinente, é que a ruína da vida urge, no momento. E, se a ruína da vida vier com uma grande escala de mortes, a ruína econômica - com o desemprego e atrasos salariais em massa - virá de qualquer modo, pois as pessoas vão naturalmente se retrair e é melhor então que isso ocorra minimizando-se a ruína da vida, que já é um fato cotodiano, ou seja, que já está vindo também. E melhor é ter-se agora uma forma de minimizar os efeitos da ruína econômica sobre os mais nescessitados e vulneráveis do que deixar para fazer isso quando e se (tomara que não!) a vaca for para o brejo. Um mato sem cachorro. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
E, a propósito disso, podemos dizer que é mais provável, extremamente mais provável, as pessoas morrerem da covid-19 do que de fome, eis que várias ações sociais dos governos aliadas a iniciativas da sociedade civil e de empresas públicas e privadas já acontecem hoje visando a proteção das pessoas mais fragilizadas, as desempregadas e as que ganham pouco. Então, a questão não é e nunca foi "morrer doente x morrer de fome?", mas sim "o quanto é possível minimizar as mortes das pessoas situadas nos grupos de risco vitimadas por uma doença para a qual não existe vacina ou tratamento de cura?"
Os trabalhadores assalariados, os autônomos, os micro e pequenos empreendedores e os desempregados, os segmentos sociais mais vulneráveis nesse momento, deveriam sim ser mais protegidos visando-se o cumprimento do isolamento social. Como? Pela lógica do "quem tem, põe, quem não tem, tira". Deveríamos estar, penso (e não sou o único a pensar isso, pelo que leio na grande mídia), no modo "economia de guerra". Um fundo social de emergência, visando atender as demandas essenciais de alimentação, água e luz desses setores sociais e do sistema público de saúde, com o dinheiro remanejado dos orçamentos de prefeituras, estados e União e sobretaxação emergencial e progressiva de grandes empresas, bancos, fortunas e salários e rendimentos do setor público e da iniciativa privada acima do limite de isenção do imposto de renda, tanto de ativos quando de inativos. Com isso, com o sacrifício excepcional e transitório dos que possuem "gordura para queimar", o bem comum e a vida seriam colocados em primeiro lugar, nesse momento único e inédito pelo qual todas as gerações vivas no Brasil e no mundo passam. Sei que a coisa não é tão simples assim e que tal dependeria de uma vontade política que esbarraria em interesses econômicos e fundamentalismos ideológicos de mesma natureza. Mas é um caminho a se trilhar, com a ajuda de cientistas da área econômica. Melhor isso do que ver as pessoas morrerem agonizantes por asfixia em hospitais superlotados e sem respiradores, não é mesmo? E os prognósticos para o Brasil não são bons, vide os números a mostrar o crescimento, acima da média mundial, tanto do espalhamento quanto da taxa de mortalidade em nosso pais, de forma mais grave em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Amazonas e Pará. Só a desinformação, a má-fé ou a cegueira ideológica não enxergam esse quadro.
O problema não é pensar como o mundo será depois que tudo isso passar, mas sim o que faremos hoje para lidar com o problema priorizando-se a vida. É uma reflexão de feriado, feita no Dia do Trabalhador, esse que está mais desprotegido nesse momento, principalmente se desempregado. O Dia do Trabalhador, portanto, é, no momento, um dia de lutar pela vida, mais do que por salário e direitos trabalhistas. Prioridade é prioridade.
Um bom final de semana para todos. Cuidem-se. Fiquem em casa e fiquem com Deus.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 01/05/2020
Alterado em 01/05/2020