João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Crônica para não falar nem dele e nem daquilo, morou?

Pois é, que dia, que sexta-feira. Só faltava ser 13! Mas não, é 24, dia em que ele, que não usa boné e, logo, não tinha como pedí-lo, resolveu afrouxar a gravata e pendurar o paletó, largando o ministério. Justo no dia do meu aniversário de casamento! Agora, todo o dia 24 de abril, enquanto eu viver, vou lembrar dele.

Tá, mas eu disse que não ia falar dele e nem daquilo. Como assim, qual "daquilo"? Aquilo-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, oras. Esqueceram da crônica do dia 17? Pois é, é daquilo mesmo que eu estou falando, mas sobre o qual não escreverei. Ah, por falar naquilo, hoje meu sogro recebeu um telefonema do Ministério da Saúde, era a pesquisa aquela para saber se ele estava se cuidando, coisa e tal. Não era do 0130 a ligação, número fake do tal golpe aquele. Era do 130, do ministério mesmo, segundo ele contou, todo faceiro.

Amanhã ele seria o assunto principal lá da Confraria do café com jornal sem carro, na lancheria da dona Idelvira. Ah, abriríamos os jornais e só falaríamos dele. Eu comeria meu "alfação" com café preto e, daí sim, falaria dele e não daquilo. Pois, se pudéssemos estar lá amanhã, isso seria num mundo que não existe mais, o mundo sem Aquilo, onde andávamos pela rua, despreocupados e faceiros, e não em isolamento social, como agora estou aqui em casa, debaixo da árvore, olhando as pessoas e os carros passando no final da tarde charqueadense e escrevendo, sozinho. Sozinho não, os cães a latir e as gatas deitadas, em volta. Aliás, os cães já carimbaram o chão e vou ter de, após terminar a crônica, recolher a obra deles. Nunca esteve tão limpo o meu pátio.

O que eu teria dito amanhã, lá na confraria? Que ele derrubou uma presidenta, prendeu outro, empossou dois e possivelmente derrubaria, agora, um desses, o atual. Ou isso ou um golpe de estado, talvez. O Leonel Lacan, por seu turno, fazendo uma de suas piadas características, diria que ele desMOROnou. Ele as faz no Face e as escreve assim, sempre colocando em maiúsculas o nome do satirizado da vez. (Acabo de flagar minha sogra chegando da rua, de máscara. Onde será que a serelepe idosa foi?) O Perereca diria que ele falou bem na entrevista coletiva do outro e da outra, os mesmos que ele prendeu e derrubou. O Tonga retrucaria, discordando, com certeza. O Arara não estará mais conosco, infelizmente. O gremista falaria bem do Grêmio, o taxista tricolor falaria mal do Renato e o PPC reclamaria de o chamarmos pelo apelido, que ele não gosta. Ou se faz que não gosta.

Entretando, o que importa mesmo, neste 24 de abril? Para mim, é que no Natal estejamos todos por aqui, escrevendo, lendo, vivendo. Eu e o pessoal da confraria, quem sabe, lá na lancheria, tomando café, falando de futebol e política, coisas que importavam muito no mundo que ficou perdido lá pela primeira quinzena de março. Isso é tudo o que realmente importa nesse momento grave pelo qual passamos, todos.

Anoiteceu em Charqueadas. "A lua está só um fiapinho" - fala minha esposa, que veio aqui pra frente da casa. Hora de terminar a crônica. Bom final de semana para todos. Fiquem em casa, fiquem com Deus. Cuidem-se.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 24/04/2020
Alterado em 24/04/2020
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