80 anos de ...E o Vento Levou
Hoje, há exatos 80 anos (esse texto será publicado dia 15.12.2019 no jornal Portal de Notícias), acontecia na cidade de Atlanta, Estados Unidos, a primeira exibição do longa metragem ...E o Vento Levou (1939), produzido por David O Selznick (1902 - 1965) e dirigido por Victor Fleming (1889 - 1949), filme baseado no romance homônimo de Margareth Mitchell (1900 - 1949). É considerado o maior sucesso da sétima arte, dono da maior bilheteria (em valores atualizados) e público (em números proporcionais) da história do cinema, além de ter sido agraciado com dez Oscars.
Já escrevi três crônicas (ver abaixo) sobre ele durante esse ano, marcando sua efeméride e, conforme prometi em agosto, aqui venho para fechar o assunto. A história é famosa: ambientada na cidade de Atlanta, Sul algodoeiro dos EUA, durante a Guerra Civil Americana (1861 - 1865), gira em torno do triângulo amoroso entre a bela e cobiçada jovem Scarlett O'Hara, o aventureiro Rhett Butler e o fazendeiro Ashley Wilkes. Na trama, sinteticamente, Scarlett quer casar com Ashley que, por sua vez, desposa a prima Melanie (ver crônica 2), enquanto Rhett tenta convencê-la que ele é o seu o par ideal, visto terem uma mesma natureza realista e pragmática, alheia aos padrões morais da época. Enquanto o país pega fogo, corações, igualmente, ardem.
O romance de Mitchell (crônica 3), embora não defenda, relativiza o que foi a escravidão nas plantações de algodão estadunidenses ao escrever sob a ótica sulista (crônicas 1 e 3). O filme ameniza isso, além de alterar bastante certas características e história das personagens principais: logo na abertura do primeiro parágrafo lemos "Scarlett O'Hara não era bela", enquanto que no filme, já nos primeiros segundos, aparece em close o rosto da bela Vivien Leigh (1913 - 1967), no esplendor de seus 26 anos, interpretando a debutante Scarlett. Bem mais adiante na trama do cinema, ao finalmente casar com Rhett, ainda não possui filhos; no livro, já tem dois, ambos de diferentes casamentos. Outra: no filme é ignorada como pianista. Mas não fica nisso.
Scarlett e Rhett, na versão literária, são bem mais anti-heróis, visto que se revelam mais frios e calculistas em suas motivações e escolhas. A constrangedora falta de cultura da personagem principal é outra face escancarada no livro e apenas levemente retratada na tela. Ler a obra de 900 páginas, portanto, é revelador sobre as inevitáveis lacunas, omissões e versões do filme, levando os leitores praticamente a uma outra compreensão de ...E o Vento Levou. A Biblioteca Municipal Glauco Saraiva, em São Jerônimo, possui dois ótimos exemplares do romance, sobre os quais já escrevi anteriormente (crônica 1).
EM CARTAZ: A Cinemateca Capitólio Petrobrás, em Porto Alegre, está com uma mostra de filmes de 1939, um grande ano do cinema. Entre os 12 títulos em cartaz até 22 de dezembro estão No Tempo das Diligências, O Mágico de Oz (também dirigido por Fleming), O Corcunda de Notre Dame e, é claro, ...E o Vento Levou, que será exibido no sábado, dia 21, às 16 horas. Uma boa oportunidade para quem ainda não viu o clássico na telona, onde a técnica technicolor se revela em toda a sua magnitude.
CRÔNICAS ANTERIORES em 2019 sobre ...E o Vento Levou:
1 - Fim de livro:
https://www.portaldenoticias.com.br/ler-coluna/900/fim-de-livro.html
2 - Essa o vento não levou:
https://www.portaldenoticias.com.br/ler-coluna/948/essa-o-vento-nao-levou.html
3 - Quando a tragédia da vida supera a da arte:
https://www.portaldenoticias.com.br/ler-coluna/983/joao-adolfo-guerreiro-quando-a-tragedia-da-vida-supera-a-da-arte.html