João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Golpe do sequestro

Pois minha velha mãe, aos 75 anos, caiu de novo no golpe do sequestro. Mais uma vez, felizmente, sem prejuízo. Já não chega a diabestes, o joelho estourado e o coração com mollinhas a admoestarem minha genitora, agora também os golpistas recalcitrantes.

Chego na casa de meus pais ontem de manhã e tá lá minha mãe, na sala, com a cara da menina que roubou e comeu o doce que era para as visitas.
- Ai filho, nem te conto! Caí de novo no golpe do sequestro.
- De novo, mãe?
- De novo.
E ela me conta.

Atendeu a ligação, a voz de mulher aquela pedindo "Socorro mãe, me ajuda vão, me matar" e depois a voz masculina assume a linha e fala que sequestrou a Mana e exige 35 mil de resgate.

- Mas a Mana tá no Chile, mãe!
- Eu sei, mas na hora me deu um branco.
Continuou...

Daí a mãe disse que era professora estadual aposentada, que não recebera seu salário integral ainda e que também não tinha todo esse valor na conta. O cara pediu 10 mil, então, mas ela foi pechinchando com o "sequestrador" até chegar a três mil reais. Conseguiu um desconto de mais de 90% no resgate da filha, nada mal. Vai ver o cara se compadeceu dela. Imagina, professora gaúcha aposentada? Nesse interim, quase meia hora de lero-lero, inclusive com pausa para tomar o remédio do coração, meu pai levanta de sua sesta e nota a situação. Veteranaço, 83 anos de churrasco e bom chimarrão, brigadiano aposentado, desconfia e vai na casa da Mana, em frente, e chama o meu cunhado, que vem rápido e diz para minha mãe desligar o telefone. Ele e o pai chamam a atenção dela. "Onde já se viu, cair de novo no golpe do sequestro! Tu sabe que ela tá viajando pro Chile com o pessoal da escola! Depois tem um piripaco e a gente tem de correr com a senhora pro hospital!" Por isso ela tava com aquela cara amuada quando cheguei, de vergonha de ter caido pela segunda vez no golpe e esquecido que a Mana esta fora do Brasil.

- Elas falavam em espanhol pelo menos, mãe?
- Não - respondeu-me, sem achar graça.

O problema nem seria sequestrarem ela, mas sim depredarem o ônibus deles lá no Chile, com essa confusão que tá lá. Haja nervos de aço lupicinianos para a senhora Guerreiro. 

Na primeira vez que ela caiu, fui eu o "sequestrado". Toca o telefone fixo lá no serviço, atendo e é minha tia:
- João, tá tudo bem contigo aí?
- Tô sim tia, o que foi? - perguntei, receoso de má notícia, tipo morte na família, coisa assim.
- É que ligaram aqui pra casa da tua mãe dizendo que te sequestraram e aí eu te liguei para conferir.
Assim, da primeira vez, foi coisa rápida. Pobrezinha, ficou com o coração na mão por causa do Dondinho dela. Só que agora estava sozinha, pois o pai sesteava, como disse.

E tenho que confessar que eu também já fui vítima disso. Ligaram lá pro meu serviço, acreditam? A mesma coisa: "Pai, socorro pai, eles vão me matar!" Levei um baita susto: "O que que foi filha, o que tá acontecendo?" Aí entrou o cara com o papo aquele. Dei-me conta no momento do que era e fui obrigado a dar um carteiraço:
- Ô malandro, tu sabe pra onde tu ligou? Tu sabe com quem tu tá falando?
Umas palavras mais, ele percebeu e desligou bem depressa. Por via das dúvidas, fiz uma chamada pra minha filha, mas o raio da guria não atendia a porcaria do celular. Fui ficando nervoso... Será??? Até que ela atendeu. Ufa.

Então essas coisas são assim mesmo, os crtiminosos pegam as pessoas desprevenidas, principalmente idosos, e exigem o resgate. No nervosismo e tomados pelo instinto maternal ou paternal, caem no golpe. Uma barbaridade.

- Bom mãe, agora tu já está mestra no assunto, né? Vê se não cai mais nessa!
- É mesmo - disse, já relaxada, sorrindo.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 22/10/2019
Alterado em 23/10/2019
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