General Câmara, o do Solar,
um portoalegrense fiel ao Império
Neste 20 de setembro, mister lembrar também daqueles que combateram os farrapos na defesa da "Leal e Valorosa" cidade de Porto Alegre, como foi o caso do General Câmara, que nomeia a cidade da Região Carbonífera.
Em minhas reminiscências mais remotas, a primeira vez que soube da existência de General Câmara foi quando li o nome no destino de um ônibus do Vitória (tudo a ver, já que ele foi um verdadeiro vitorioso) lá por meados dos anos 1970, possivelmente na parada junto a Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Colônia, em Charqueadas. Recordo vividamente de ter pensado, em minha fantasiosa ingenuidade e ignorância infantil, de ser estranho um general com nome de câmera de pneus! Vejam só, eh eh eh eh. Para o pequeno Joãozinho, a Colônia era o seu país e Charqueadas a nação vizinha. Logo, aquele busão parecia ir para algum outro planeta desconhecido.
Entretanto, José Antônio Corrêa da Câmara (1824 - 1893) foi um importante e respeitado militar brasileiro durante o período do Segundo Reinado (1840 - 1889), tendo iniciado sua carreira em 16 de setembro de 1839, aos 15 anos, apenas dois dias antes da morte em combate (ou assassinato) do coronel de legião farrapo José Manuel Leão (1788 - 1839), em Charqueadas (vide texto publicado aqui nesta coluna dia 18 passado). Diz a biografia de Câmara que ele, tão logo foi alistado volutariamente como 1° cadete, já teve seu batismo de fogo em confrontos nas cercanias de Porto Alegre. Assim, pode ter, inclusive, participado do ataque à charqueada do coronel Leão. Tese pouco provável, embora não seja hipótese a ser descartada sem estudos e investigações mais aprofundadas. Escreverei sobre isso em outro momento.
Desta forma temos, em nossa região, a situação curiosa de - mesmo sendo o general farrapo Bento Gonçalves (1788 - 1847) nascido em Triunfo e o triunfense coronel José Leão tombado onde hoje é Charqueadas - ser o General Câmara a nomear um município daqui, mesmo nunca tendo ele morado ou trabalhado por essas bandas (a não ser por poucos meses, durante a Guerra dos Farrapos, quando o regimento ao qual pertencia ficou posicionado às margens do Taquari). Nasceu e viveu em Porto Alegre, onde é nome de rua. Aliás, foi proprietário do Solar dos Câmara, o mesmo que fica atrás da Assembléia Legislativa (AL-RS), sabiam? Eu não sabia. O prédio, obviamente, tem o nome por esse motivo. Quando, há pouco termpo, fui assistir a homenagem ao jornalista Juremir Machado da Silva na AL-RS, aproveitei e fiz uma demorada visita ao Solar, onde constatei que José Câmara e o General Câmara eram a mesma pessoa e me interessei pela sua figura. Ao ler sobre ele e perceber sua possível participação no episódio do coronel Leão e na Revolução Farroupilha, tal interesse aumentou. Sem tudo isso, não estatria escrevendo esse texto.
Câmara era filho do comendador José Antônio Fernando de Lima (1767 - 1834) e de Flora Corrêa da Câmara (1790 - 1842). Seu pai, viúvo, desposou em segundas núpcias sua mãe. Uma das irmãs por parte de pai, Maria Elisa Júlia de Lima (1793 - 1877), casou com José Feliciano Fernandes Pinheiro (1774 - 1847), o Visconde de São Leopoldo, o qual mandou construir o Solar, finalizado em 1824 (por coincidência, o ano em que o general nasceu). A filha do visconde com sua irmã, Maria Rita Fernandes Pinheiro (1829 - 1914), sua sobrinha, seria também sua futura esposa. Imagina se isso fosse hoje, o rebu e a polêmica que não daria? Aqueles eram, paradoxalmente, tempos mais liberais nos costumes, eh eh eh eh. Assim, José Antônio Câmara foi morar no Solar e o resto é história.
Eu dizia que José Câmara fora um destacado militar, combatendo os farroupilhas em seus anos iniciais e, depois, na maturidade, obtendo renome durante a Guerra do Paraguay (1864 - 1870) como brilhante estrategista, onde comandou o cerco final ao presidente Solano López (1827 - 1870) em Cerro Corá, testemunhando sua morte. Encurtando a história para não alongar muito esse texto (que na internet ninguém lê texto comprido, né), Câmara se tornaria Visconde de Pelotas, governador do Estado, senador, ministro da Guerra e Marechal.
Logo, virou nome de rua e de cidade com méritos, vê-se, tanto que eu poderia escrever muito mais sobre o general, como atesta, abaixo, a bibliografia consultada, escrita por seu neto Rinaldo Câmara (1896 - 1974), igualmente general do Exército.
Referências
CÂMARA, Rinaldo Pereira. O Marechal Câmara, volume I: reflexões introdutórias à sua biografia. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1964. 453 p.
CÂMARA, Rinaldo Pereira. O Marechal Câmara, volume II: sua vida militar. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1970. 624 p.
CÂMARA, Rinaldo Pereira. O Marechal Câmara, volume III: sua vida política. Porto Alegre: Grafosul/Instituto Estadual do Livro, 1979. 664 p.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 19/09/2019
Alterado em 19/11/2019