João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Duas xícaras e um copo em cima da geladeira

Estavam já há uma semana ali. Sujas. Usadas e não lavadas. Duas xícaras e um copo, em cima da geladeira, na cozinha daquela repartição pública.

Quem as sujara e não se dera ao trabalho de, ao menos, largá-las na pia, que fosse, ninguém sabia. Com certeza fora um homem, claro, pois mulher é mais caprichosa e não faz esse tipo de coisa. Logo, poderia ser qualquer um dos machos que ali trabalhava. Macho metido a "alfa", com certeza, visto que macho alfa que é macho alfa não lava a louça que suja. Bem capaz! Tratava-se de um macho alfa, mas de um porco macho alfa. Assim refletia Armando analisando o relaxamento depositado sobre o refrigerador.

- Acho que foi o André - falou Henrique, entrando repentinamente na cozinha. É muito porco esse cara, só pode ter sido ele.
- Será?
- Só pode, só pode. Agora, saber, assim, saber, não dá pra saber, né.
- A Parabólica sabe..
- ?
- ... O difícil é conseguir conversar com ela.
- Tá falando de quem?
- De uma barata que vi em cima da geladeira, andando entre as xícaras e o copo.
- Ui, que nojo, uma barata em cima da geladeira!
- Mais nojenta que esses copos aí há mais de uma semana ela não é, com certeza.
- E tu ainda deu nome pro bicho! Parabólica!
- Por causa das anternas, tá sempre ligada, captando tudo.

Henrique foi preparar seu café, Armando continuou observando os objetos. O fato é que ninguém limparia a sujeira que outro fizera, cada um limpava a sua louça, essa era a regra de convivência do local. Desta forma, as duas xícaras e o copo ali permaneceriam até o provável porco macho alfa se dar ao trabalho de lavar. Só que não.

No outro dia, pela manhã, Patrícia chegou mais cedo ao serviço. Foi a primeira. Deparou-se mais uma vez com as duas xícaras e o copo sujos em cima da geladeira e achou aquilo um desaforo. Irritada, deu uma olhada para ver se alguém estava chegando. Caminho livre. Pegou-as e as jogou dentro da lata de lixo. "Pronto, resolvido" - pensou, triunfante, Saiu para tomar seu café no setor em que dava expediente. Armando entrou na cozinha, uns quinze minutos depois, e deu falta das louças sujas no local de sempre. Correu os olhos em direção à pia. Nada. Foi até o armário. Nada. Fez um café e sentou, intrigado. Passado um tempinho, teve a impressão de ver duas anteninhas apontarem na borda da lixeira.

A Parabólica estava, realmente, sempre ligada. Ao contrário do porco alfa, o relaxado.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 30/07/2019
Alterado em 08/10/2021
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