Armada e Comensais, os mais estilosos da capital
Os dois melhores bares da capital ficam, por enorme ironia (explico isso mais adiante), na Rua Joaquim Nabuco, à altura do número 197: o Armada e o Comensais, o primeiro à esquerda e, o segundo, à direita daquela via.
Mas nem precisava mencionar a localização deles, pois são inconfundíveis. A começar pela pintura: O Armada é carnavalesco, em berrantes tons de vermelho, dourado, azul e amarelo, enquanto o Comensais é sobriamente identificado pelo aspecto pastel do verde e prata que domina toda sua decoração. No cardápio, possuem tanto pontos em comum - a apetitosa cerveja amanteigada que servem, como diferenças: o Comensais é famoso por seus petiscos de carne de cobra, idealizados pelo chef Lúcio para "fortalecer o espírito em noites de trevas", ao passo que, no Armada, bombam os chás com biscoitos do malucão e riponga Grido, preparados "com ingredientes naturebas colhidos em minha horta" - ressalta.
O Armada é de propriedade de Percival Brian, um vovozão de longas barbas e cabelos brancos, sempre metido em vestes coloridas, em contraste com a característica roupa preta com a qual indefectivelmente vemos Tom Marvolo, o tiozão careca que fundou a casa concorrente. A diferente trajetória desses dois empresários do ramo mágico da gastronomia, visto que só tem em comum os nomes um tanto quanto esquisitos, serve para identificar suas clientelas especificas: o Comensais é um estabelecimento majoritariamente frequentado pela elite sangue puro da cidade, geralmente os bem nascidos da sociedade; no Armada já vai a mestiçada, pois como diz Percival, "seja homem ou lobisomem, tudo é meu bruxo". Todavia, os bares estão abertos a todos, ressalte-se.
Agora vamos à ironia da qual falei no início e com a qual fecharei esse texto. Ambos contratam serviços terceirizados. Os funcionários que neles trabalham são da empresa Prince, cujo dono é conhecido no meio por ser muito "severo" no trato com os mesmos, fato que piorou após a reforma trabalhista. Conforme o presidente do sindicato da categoria, popularmente conhecido como Monstro Dobby, "os trabalhadores, na pratica, executam funções de enpregados domésticos, fazem de tudo nesses estabelecimentos, com salários baixíssimos, parece até trabalho escravo".
Assim, a ironia é que se localizam, como falei, na Joaquim Nabuco, que foi um grande jornalista brasileiro, um abolicionista, portanto, um defensor da liberdade e um combatente do trabalho escravo. Desta forma, podemos ver que, mesmo que determinados bares bares apresentem temáticas divergentes, uns progressistas e outros conservadoras, geralmente tem a exploração do trabalho como intersecção.
Contudo, se você quiser se fazer de trouxa e ficar alheio a esses pequenos detalhes constrangedores enquanto apreciia uma cerveja amanteigada, tanto o Armada quanto o Comensais são uma excelente opção para a o cair da tarde e a noite na capital. Recomendo.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 26/07/2019
Alterado em 26/07/2019