Há dez anos, na noite chuvosa de 12 de maio de 2009, a banda britânica de rock Oasis fez um dos últimos shows de sua carreira, em Porto Alegre, no Ginásio Gigantinho, quase lotado, 12 mil pessoas. Eu estava lá. Foi a quarta data de uma turnê que passou também por São Paulo, Rio de janeiro e Paraná, antes de ir para a Argentina.
Eu curto bastante o som dos caras. Tenho todos os CDs deles e um bom número de DVDs. O melhor, disparado, é o do show no antigo estádio Wembley, antes de ser reformado, Familiar to Millions. Ele abre com Go Let It Out, do LP Standing on the Shoulder of Giants, de 2000 e, tirando o baterista, traz a mesma formação que veio aqui na capital. Supersonic, Wonderwall, Don’t Look Back In Anger, Champagne Supernova, Acquiesce, Stand By Me, Gas Panic, Live Forever e Hey Hey My My (cover de Neil Young) são as canções que mais aprecio naquele show, assisto-o seguido até hoje. Assim, quando vi o anúncio do show, fui dos primeiros a comprar ingresso.
Minha filha, na época com 11 anos, queria muito ir, porém a indicação etária do show era 14 anos. Minha esposa consolou-a: - “Não te preocupa, essas bandas vêm seguido por aqui e teu pai te leva quando eles vierem novamente”. As mães são muito boas em dar esperança para os filhos, não é mesmo? Era bem a época em que o Nilmar, centroavante do Inter, fez aquele golaço contra o Corinthians, em São Paulo, pelo Brasileiro: deu um pique pela diagonal de ataque, partindo da direita, driblou toda a zaga do Timão, deu um corte pra dentro já na pequena área e bateu no contrapé do goleiro. Golaço mesmo, inesquecível. Recordo bem, pois o Noel Gallagher, guitarrista e compositor da banda, saiu no jornal comentando que assistira ao jogo pela TV do hotel. Inclusive, no dia 12, o pessoal do Inter e o Nilmar foram ao Gigantinho antes do show dar uma camisa autografada para ele.
Bom, retomando meu relato: no dia, se não me engano era uma terça-feira, fui mais cedo e fiquei num hotel, pois não teria como voltar a Charqueadas depois do show e teria de pousar em Porto Alegre. Entrei cedo no Gigantinho, por volta das 19 horas (foto acima, uma das poucas que ficou boa, pois eu não sabia usar a máquina nova com pouca luz). Reparei que estavam entrando crianças menores que minha filha e ninguém pedia documento para os seus pais. Poderia, então, ter trazido a guria, agora só na próxima mesmo - pensei. Às 20h30min a banda gaúcha Cachorro Grande abriu. Sabe, não prestava muita atenção neles, assistindo clips na MTV, mas a apresentação ao vivo foi arrasadora, os caras estavam com MUUUIIIIITAAAA vontade de tocar. Às 21h40min começou aquele mesmo instrumental com locução que abre o show de Familiar to Millions, Fucking In The Bushes, e o Oasis subiu ao palco enquanto o ginásio rugia alto. Não recordo a canção que eles tocaram primeiro, parece que foi Rock’n Roll Star, entretanto o que me chamou a atenção, surpreendentemente, foi a queda de pique em relação ao Cachorro Grande. Os ingleses, nitidamente, não estavam com o mesmo tesão dos gaúchos. Parece que apenas o vocalista Liam Gallagher e o baterista Zak Starkey (filho do Ringo, dos Beatles, uma das grandes influências declaradas do Oasis) estavam a fim de mandar ver um rock. E isso é coisa que a gente não enxerga, a gente ouve e sente, principalmente comparando com as outras apresentações que a gente conhece.
Para ser bem sincero, e talvez até mesmo pelo motivo acima, só recordo vivamente de três canções tocadas aquela noite: Wonderwall, Don”t Look Back In Anger e Falling Down. Wonderwall, com certeza a mais conhecida deles, foi a que eu e todo mundo que estava lá cantou junto, na maior emoção. O outro grande sucesso, Don’t Look..., era cantada pelo Noel, e ele a fez numa versão mais acústica a intimista, ao violão, acompanhado apenas pela guitarra de Gem Archer. Foi legal e tudo, mas não teve o mesmo impacto da versão com a banda, com certeza. Vai que era o clima em que o Noel estava, mesmo. Já Falling Down era do CD mais recente, Dig Out Your Soul, que inclusive nomeava a turnê. Eu curtia bastante essa canção, tem um clip bem legal, onde eles criticam a família real britânica. Vale a pena ver no Youtube. E recordo um pouco também de Champagne Supernova, pois eu fiquei apreciando o movimento das luzes espalhadas pela abóbada do ginásio por um globo refletindo um dos canhões de luz. E foi isso.
Vi por lá o Ertão, daqui de Charqueadas, e sua esposa, Anelise, ao meu lado, na outra arquibancada. Ele apontou para mim o ex-deputado Marcos Rolim, que também estava ali, um pouco mais abaixo. A gente sempre encontra um charqueadense por aí, né, em tudo que é lugar que a gente vá. Creio que um dia, se for na Groenlândia, perigo encontrar um por lá também. No intervalo do show do Cachorro Grande fui comprar comes e bebes e vi o Roger Machado, que ainda jogava bola, acho que no Fluminense. Não pedi autógrafo nem nada, claro.
Apesar dos pesares, valeu muito ter ido ao show. Pela manhã, no hotel, ao tomar café, peguei a Zero Hora e li sobre a apresentação. Ah, eu estive lá, pensei, todo faceiro. “Não sabe de nada, inocente”.Poucos dias depois ouvi o Noel dizer em uma entrevista que ele não curtiu fazer quatro shows no Brasil, pois preferia ter realizado apenas um, centralizado, num grande estádio: “Não sei porque a gente ainda faz essas coisas, foi o Liam que quis”. F(#%* da p#$@! Estava explicada a falta de tesão que percebi nos caras. Ainda durante essa mesma turnê, se não me falha a memória (e a memória nos engana, ao contrário de uma boa pesquisa no Google, mas prefiro escrever de cabeça mesmo essa crônica, sendo sincero aos meus limites humanos, demasiado humanos) antes de uma apresentação na França, Liam e Noel saíram no soco e o Oasis encerrou as atividades.
Nem sempre as esperanças de mãe se confirmam, assim como nem todo o show que a gente vai sai 100% como a expectativa. Todavia, viver é correr riscos calculados e, o que importa, é se o saldo foi positivo. Don’t look back in anger I hard you say...