João Adolfo Guerreiro
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Viva a greve!

Um fato que despertou minha curiosidade foi o do apoio popular e empresarial recebido pela greve dos caminhoneiros, visto que outras paralisações recentes, como a de policiais, professores e rodoviários, não receberam o mesmo aval, pelo contrário: foram criticadas, mesmo não causando, nem de longe, o risco de um desabastecimento total no país, como foi o caso agora.

Inicialmente, percebemos que os caminhoneiros cruzaram os braços, iniciando pelos autônomos, pressionados pelas altas sucessivas do aumento do diesel desde que a Petrobras mudou sua política de preços, atrelando-a ao mercado internacional, com toda a justiça e direito. Da mesma forma, os movimentos paredistas das outras categorias acima citadas. A greve, direito garantido no artigo 9ª da Constituição Federal, é a principal e mais eficaz forma dos trabalhadores assalariados públicos e privados ou autônomos lutarem por seus interesses monetários e trabalhistas numa economia de mercado.

O principal argumento que li e ouvi sobre o apoio foi o de que as outras paralisações foram específicas de determinados setores profissionais, ao passo que a dos caminhoneiros agregava a sociedade como um todo. Eu entendia que a pauta do movimento era igualmente restrita aos interesses da categoria, o preço do diesel encabeçando as demandas. Creio que o final da greve, após o governo federal atender praticamente a todas as reivindicações específicas dos motoristas do transporte de cargas, demonstrou que a ela não possuía uma bandeira geral.

O fato, então, é que as pessoas viram na parada dos caminhoneiros uma brecha para colar suas pautas: a população em geral, a do preço da gasolina; os empresários, além do preço dos combustíveis também afetar negativamente sua planinha de custos, agregaram a bandeira da diminuição de impostos, que tem a simpatia de grande parte da sociedade; grupos político-ideológicos, à direita, apoiavam o movimento sob a palavra de ordem Intervenção Militar Já (a única que era vista nos piquetes), e, à esquerda, pela mudança da política de preços da Petrobrás e contra a privatização da empresa e a venda de refinarias desta. O mais interessante foi ver tanto pessoas de direita quanto de esquerda defendendo o iminente (e inaceitável) desabastecimento, via redes sociais, como uma tática válida da luta classista. Todavia, os prejuízos causados ao setor agropecuário contribuíam, em sentido oposto, para a perda de apoio social, pois a grande mídia começou a bater muito nessa tecla.


Finda a paralisação, os supra mencionados não tiveram suas demandas contempladas pelo acordo entre governo e entidades representativas dos caminhoneiros, o que, naturalmente, era de se esperar, pelo caráter particular do movimento. Assim, o que podemos concluir, passado esse episódio da vida nacional? Que brasileiro adora uma greve!

Sim, o que existe, vimos, é maior simpatia ideológica ou comunhão de interesses com determinados grevistas em detrimento de outros, mas não um recusa ao instrumento da greve, como tal, como forma de ação reivindicatória numa economia capitalista. Claro que, por exemplo, não vemos governos e empresários apoiando paradas de trabalhadores contra si, eis que essas conflitam os seus interesses econômicos. E fatia expressiva da população, da mesma forma, mostrou que só se incomoda com os efeitos colaterais em seu cotidiano oriundos de paralisações em que não vê vantagem direta ou indireta para si.


Assim, como brasileiro gosta de greve, podemos dizer: Viva a greve das professoras! Viva a greve dos policiais civis e militares! Viva a greve dos rodoviários! Viva a greve dos caminhoneiros! E, num sentido mais amplo:
- Viva a greve!



Texto publicado no site do Jornal Portal de Notícias em 05 de junho de 2018: https://www.portaldenoticias.com.br/ler-coluna/634/viva-a-greve.html
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 10/07/2018
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