6 de Maio de 1968, Paris. Estudantes universitários, mobilizados desde o dia 2, erguem barricadas nas ruas da capital francesa e entram em confronto com a polícia. Saldo: cerca de 400 detenções e 500 feridos. Era o início de um dos meses mais paradigmáticos da história recente do Ocidente. Parece tão longe, mas é tão recente...
O que queriam aqueles jovens estudantes? Em uma palavra, liberdade. Era um movimento de inspiração nitidamente socialista, todavia profundamente espontâneo e democrático, sem ligação com partidos e sindicatos. E isso, para a época, era algo totalmente novo (parecido com o Junho de 2013 no Brasil). Girava o mundo no contexto da Guerra Fria e da Guerra do Vietnã, da disputa geopolítica entre os blocos Comunista x Capitalista, capitaneados, respectivamente, por URSS e EUA. Estávamos ainda no auge da prosperidade econômica posterior ao final da Segunda Guerra, tempo bom que duraria até a Crise do Petróleo (1973).
Os estudantes franceses desejavam uma sociedade alternativa a ambos os modelos, com mais igualdade, além da já citada liberdade. E o Maio de 1968 continua tão paradigmático e atual justamente por esse motivo: a inspiração por um mundo com igualdade, liberdade e democracia passou a ser a tônica para a política de um modo geral e, mais especificamente, para os governos de esquerda, que se distanciavam da influência do tradicional regime comunista soviético, afeito ao “centralismo democrático”. Era a chamada “Nova Esquerda” em construção, aditivada pelo Maio 68.
Grande parte dos políticos de hoje viveram diretamente essa época ou indiretamente foram afetados por seu caldo cultural, principalmente os nascidos nos dez anos posteriores. No Brasil, PT e PSDB são partidos que possuem suas maiores lideranças crias desse útero durante a redemocratização brasileira, mesmo que, bivitelinos, guardem uma determinada diferença nos modelos econômicos adotados em seus governos. Pudera: o movimento francês não legou ao mundo mudanças na concepção de economia, mais sim sociais e culturais. Toda essa gama de direitos individuais e coletivos, além de movimentos de minorias e de mulheres, teve no Maio francês uma mola propulsora. É bom lembrar que muita coisa vinha ocorrendo nas décadas de 1950 e 60, principalmente na última, no rescaldo da experiência negativa das duas grandes guerras mundiais, sendo o Maio de 1968 um episódio catártico desse movimento social de renovação mais amplo, assim como o Festival de Woodstock (1969), da mesma forma, o foi. E, mesmo em 1968, outros fatos marcantes também aconteceram: a Marcha dos 100 mil no Brasil, durante a ditadura, e o Massacre de Tlatelolco, no México.
Meio século. Parece muito tempo, mas, como argumentei acima, não é, se pensarmos na sua influência que ainda reside na mentalidade de nosso tempo. Ora, vejam só: faz 2000 anos que Jesus esteve entre nós e que os evangelhos foram escritos; ano passado comemoramos os 500 anos da reforma de Lutero. E, por acaso, alguém aí negaria a influência desses fatos na conformação do mundo atual?
Tá, agora vocês devem estar perguntando o que a imagem tem a ver com esse texto. É que a moça da foto, Carla Bruni, ex-modelo e cantora, nasceu no final de 1967, 23 de dezembro, quase 1968 e tem, portanto, 50 anos. Bom, ela é esposa do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, um liberal que justamente queria acabar com o “espírito de 1968”, por entendê-lo politicamente nefasto para o desenvolvimento da França. Esse retrato é de 2007, ano em que ela revelou sua relação com Sarkozy. Posso garantir que Carla ainda está muito bem na foto, assim como o Maio francês, 50 anos depois.