João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
LIVRÃO

A propósito de ontem, dia 23 de abril, ter sido o Dia Mundial do Livro, escrevo essa crônica.


Tu podes ler de duas maneiras um livrão: devorá-lo em poucos dias, numa experiência intensa e visceral, quase um transe literário, ou ir aos poucos, por semanas, deixando-o conviver com você, criando cumplicidade e intimidade.

Mas o que é um “livrão”? Bom, é um livro grande, com um montão de páginas, obviamente. No meu conceito, um com no mínimo 500 páginas – menos que isso já é livro; e, no máximo, com mil e poucas páginas – mais do que isso já vira enciclopédia. “Livrão” ideal, para mim: 800 páginas.

Prefiro me relacionar com livrões, hoje em dia, aos poucos. Quando jovem, devorava-os, eis que a vida era intensa, cheia de coisas a serem descobertas e vividas. Agora, já na ante-sala da meia-idade, aprecio mais os encontros diários, “bate-papos” produtivos a fim de ensejar reflexões edificantes.

O último livrão que li possuía 1.042 páginas. Foi um contentamento encontrá-lo na livraria após o cinema. Ambos, filme e livrão, acerca da biografia do mesmo artista. Havia muito interesse de minha parte em iniciar tal relação. Assim, “conversamos” em minha casa, na praia, sentados em frente ao mar, seja pela manhã, à tarde, à noite ou mesmo na madrugada, sorvendo um café, uma cerveja, uma água mineral ou uma Coca Zero. Por vezes deitados na rede, sob a sombra das árvores, acompanhados pelo ronronar da Vulkana e da Coruja.

Geralmente, lia um dos 47 capítulos por dia; eventualmente, mais de um. A cada “encontro”, anotava ideias e pensamentos que brotavam, concomitantes ao destaque de determinados trechos considerados importantes, inspiradores ou sugestivos. Um livrão bem escrito é um rico manancial de sugestões. No caso de uma biografia, quando o autor enriquece o relato com uma contextualização precisa e abrangente, remete-nos para além do biografado e de seu tempo, trazendo-nos elementos para análise do presente e perspectiva para o futuro.

Encerrado cada “encontro”, pesquisamos detalhes, fatos e personagens mencionados de relance, pois um bom livrão nos leva a vários outros caminhos nas paradas durante o percurso.

No começo, vislumbramos à distância o final da empreitada. Paulatinamente avançamos, ganhando terreno no delicioso processo de descoberta. Pela metade do livrão já começamos a olhar para trás saudosos dos momentos iniciais. Ao fim, após lermos a última frase, acomete-nos aquela sensação de vazio e de perda. Mesmo que retomemos a primeira página, não será mais a mesma coisa.

Cada livrão é uma história e uma relação diferentes, e nem todo o livrão serve, tem de ser aquele específico, naquele momento e com aquela motivação. Muitas vezes o encontramos por acaso ou sugerido de modo informal, numa conjunção literária. Encontre, você também, o seu livrão, curtindo o momento “que seja eterno enquanto dure”, como bem escreveu o poeta.

Texto publicado no site do jornal Portal de Notícias em 24.04.2018: http://www.portaldenoticias.com.br/ler-coluna/576/livrao.html
 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 04/05/2018
Alterado em 04/05/2018
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