Parabéns, mulheres! “Capazes” e lutadoras, desde sempre!
Hoje, assistindo ao comentário do promotor Cláudio Brito no Bom Dia Rio Grande, “Lugar de mulher é onde ela quiser”, vi-o informar sobre a Lei 4.121 que, alterando o Código Civil, durante o governo João Goulart, criou o Estatuto da Mulher Casada e tornou estas juridicamente “capazes” no Brasil. Isso mesmo, até 1962, há 66 anos, no Brasil, a mulher, ao casar, era considerada “relativamente incapaz, pertencia a seu marido, o chefe da unidade familiar”, disse Brito.
E vejam que em 1932, quando, no governo Vargas, foi dado o direito a voto para as mulheres, isso só poderia ocorrer se o marido autorizasse, justamente por serem elas “relativamente incapazes”. As viúvas e solteiras, possuindo renda própria, também gozavam tal direito. Em 1934 a legislação eleitoral foi novamente alterada, retirando qualquer obstáculo ao sufrágio feminino. Ainda sim, a obrigatoriedade era apenas do voto masculino; só em 1946 o feminino tornou-se obrigatório.
Só que tudo isso e muito mais não foi dado de presente pelos homens bonzinhos, foi sim conquistado por mulheres como as da foto acima, que vão à luta! E isso se deu a partir das reivindicações operárias da segunda metade do século XIX para cá, com o advento do modo de produção capitalista e a consequente inserção da mulher no mercado de trabalho como proletária, ou seja, como trabalhadora assalariada que, na época, era sujeita a condições extremas de exploração e salários inferiores aos dos homens em mesma condição.
Brito citou a famosa greve de Nova York de 1857, que teria dado origem ao Dia Internacional da Mulher. Essa greve é contestada, hoje, como sendo mais mito que verdade. Em artigo intitulado “8 de Março: a origem do mito da greve de Nova Iorque”, o escritor e líder sindical Vito Gianotti (1943 – 2015) defende que essa versão foi construída. Vale a pena citar um parágrafo do texto:
“A canadense Renée Côté pesquisou, durante dez anos, em todos os arquivos da Europa, EUA e Canadá e não encontrou nenhuma traça da greve de 1857. Nem nos jornais da grande imprensa da época, nem em qualquer outra fonte de memórias das lutas operárias. Ela afirma e reafirma que essa greve nunca existiu. É um mito criado por causa da confusão com as greves de 1910 e 1911, nos EUA, e 1917, na Rússia.”
Em relação às 129 operárias que teriam sido queimadas em 1857, Gianotti diz que tal versão deve estar inspirada na greve de março de 1911 igualmente ocorrida em Nova Iorque, onde “foi registrada a morte, durante um incêndio, causado pela falta de segurança nas péssimas instalações de uma fábrica têxtil, de 146 pessoas, na maioria mulheres imigrantes judias e italianas”. O fato é que o mito pegou e, em 1975, como bem destacou Brito, a ONU reconheceu o 8 de Março e referendou, dessa forma, o mito da greve de 1857 e das 129 tecelãs queimadas vivas.
Outro ponto a salientar é que as lutas operárias do período acima mencionado eram de inspiração anarquista, socialista e comunista. Ou seja: foi no confronto entre operários anarquistas, comunistas e socialistas contra empresários liberais que se forjou todo o arcabouço de direitos trabalhistas, sociais e políticos que as mulheres até hoje possuem e vão ampliando. Eis o fato histórico.
Vale a pena procurar na internet o vídeo de Brito e o artigo de Gianotti, a propósito da data de hoje.