João Adolfo Guerreiro
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Foto - Montagem de Marcos Essvein (jornal Portal de Notícias)

O (VERDADEIRAMENTE) INAFUNDÁVEL LIGHTOLLER


Titanic (1998), Dunkirk (2017) e O Destino de Uma Nação (2018). O que liga esses três filmes? Um nome: Charles Lightoller, nascido em 1874. Ele aparece explicitamente em Titanic, possui um pseudônimo em Dunkirk e está “espiritualmente” em O Destino de Uma Nação. Uma biografia e tanto, a deste marinheiro inglês!

Iniciemos pelo filme mais antigo. Lightoller (ao centro na foto acima) era o segundo oficial do Titanic, navio do famoso naufrágio que todo mundo já leu, viu ou ouviu falar sobre, ocorrido em abril de 1912. É um personagem bem presente no longa-metragem (o primeiro à esquerda na foto) Sobreviveu passando horas em pé, com outras 30 pessoas, sobre o casco emborcado de um bote salva-vidas. Possuía experiência, pois sobrevivera a outro naufrágio, em 1889, quando tinha a idade de 15 anos, do navio Holt Hill, no Oceano Índico, sendo resgatado posteriormente da Ilha de Saint-Paul, então desabitada, onde os sobreviventes foram parar após o encalhe da embarcação.

Mais adiante, ainda funcionário da companhia proprietária do Titanic, a White Star Line, participou da Iª Guerra Mundial na tripulação do Oeanic, navio da empresa à serviço da marinha inglesa. O navio encalhou em 1914, nas proximidades de uma ilha escocesa, sendo perdido. Foi então designado como capitão do HMS Falcon, que veio a pique em 1º de abril de 1918, após colidir com outra embarcação, durante intensa neblina, quando estavam em comboio. No comando do HMS Garry, em junho do mesmo ano, afundou um submarino alemão.

Em Dunkirk, ele é um dos proprietários de pequenas embarcações que atende a convocação da Operação Dínamo, que tinha por objetivo resgatar 400 mil soldados britânicos cercados na cidade costeira de Dunkirk, na França, em maio de 1940. É um dos episódios determinantes da IIª Guerra Mundial, quando a Wehrmacht alemã varria implacável a Europa, submetendo mesmo a França rapidamente. Ele é chamado no filme de Mr Dawson (aliás, mesmo sobrenome do Jack de Titanic). Mas o personagem (o último na foto acima, à direita) é inspirado nele mesmo, inclusive o barco utilizado no filme é o dele, que existe até hoje. Com seu iate motorizado com capacidade para 20 pessoas abarrotado com 130 soldados, ainda conseguiu evitar as metralhadoras dos caças da Luftwaffe mediante manobras evasivas.

O Destino de Uma Nação aborda a posse de Winston Churchill como primeiro-ministro, que acontece concomitante ao cerco de Dunkirk. Os membros do seu partido, o Conservador, queriam que a Inglaterra assinasse uma “paz honrosa” com a Alemanha. Desespero e pessimismo total. Churchill, irredutível, concebe a operação, que dá certo, apesar de tudo parecer estar contra. Charles não aparece nesse filme, mas, sabemos, participa heroicamente do resgate dos soldados, já idoso e aposentado.

Assim, podemos acompanhar a história de Charles Lightoller pelos três filmes: Titanic é um clássico, O Destino de Uma Nação ainda está nos cinemas e Dunkirk nas locadoras. O ideal é assistir novamente Titanic, prestando mais atenção no segundo oficial do malfadado transatlântico; depois, conferir na telona O Destino de Uma Nação, que contextualiza o episódio de Dunkirk no âmbito da grande política do início da IIª Guerra; por fim, assistir Dunkirk, como se fosse um “hyperlink” de O Destino, conferindo a ponta de baixo do fato, no front de batalha, e vendo o velho lobo do mar saindo ileso de mais uma aventura marítima.

Morreu em 1952, aos 78 anos, de complicações cardíacas. Pudera, foi uma vida que exigiu muito do coração! Não é demais citar que ele perdeu dois filhos, ao início e ao final da Segunda Guerra. Todavia, muito mais que a ricaça Molly Brown, também sobrevivente do Titanic e que ficou conhecida como “a inafundável”, Charles foi o real merecedor de tal epíteto, eis que sobreviveu, ao longo de 53 anos singrando os mares deste planeta (esteve no Rio de Janeiro, quando ainda aprendiz), a encalhes, tempestades, neblinas, icebergs, colisões, submarinos e aviões. Charles Lightoller foi “O” cara, o verdadeiro inafundável! O resto é sorte e coluna social.


Texto publicado no site do jornal Portal de Notícias em 06.03.2018: http://www.portaldenoticias.com.br/ler-coluna/497/o-verdadeiramente-inafundavel-lightoller.html
 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 06/03/2018
Alterado em 08/03/2018
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