No período pós Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e Rúsica disputavam a hegemonia geopolítica do planeta. Era a chamada Guerra Fria. Tal disputa se dava em várias frentes, principalmente na bélico-tecnológica, sobretudo nas “corridas” nuclear e espacial. O fato que conto está no contexto da última, ocorrido há 60 anos...
Se os estadunidenses saíram na frente no front atômico e nuclear, os soviéticos foram mais efetivos no outro polo: mandaram ao espaço o primeiro satélite, o Sputnik I, em 4 de outubro de 1957, e o primeiro homem, Yuri Gagarin, em 12 de abril de 1961. Mas não foi Yuri, aquele que disse, para alegria dos vermelhos soviéticos e tristeza dos vermelhos gaúchos, a famosa frase “a Terra é azul” (profetizando Renato Gaúcho em 1983), o primeiro ser vivo a vagar fora de nossa atmosfera. Esse feito pertence a simpática cadelinha da foto que ilustra esse texto, Laika.
Imediatamente depois do sucesso da missão Sptnik I, o líder soviético Nikita Khrushchov ficou todo animado e chamou o cientista reponsável pela missão, Oleg Gazenko, com uma grande ideia na cabeça, ou seja, mandar um ser vivo ao espaço e, assim, matar dois yankes com um só tiro de kalashnikov: superar mais uma vez os “americanos” (do norte!) e marcar épicamente o quadragésimo aniversário da Revolução Russa. Gazenko sabia que teria apenas um mês para viabilizar tal coisa, visto que a efeméride seria comemorada dia 7 de novembro, pelo clendário gregoriano. Obviamente que ele não diria a Khrushchov que era uma missão quase impossível, ele disse exatamente o contrário, que era o que o líder queria ouvir de sua boca e, depois, foi ver como podeira realizar tal intento. Bom, claro que a corda arrebentou no lado mais fraco: sobrou para a cadela.
Com tão pouco tempo, os cientistas russos concluíram que só seria possível dar uma garibada no projeto Sputnik I, adaptar uma gabine para enviar a cahorra e pronto. Uma viagem só de ida. Laika seria a “voluntária”. E assim foi feito, no dia 3 de novembro de 1957. Laika, uma pequena viralata capturada nas ruas de Moscou, mesmo com o treinamento rigoroso a que fora submetida, durou apenas cerca de cinco horas no espaço, vitimada por estresse e por superaquecimento da nave, motivado por uma falha do projeto devido à correria com que este foi planejado e executado.
Khrushchov teve as suas manchetes e, nelas, foi “informado” que Laika sobrevivera quatro dias no espaço. Em abril de 1958, a Sputnik II caiu no planeta, desintegrando-se na atmosfera. Quarenta anos depois, em 1998, Gazenko afirmaria: “Trabalhar com animais é um sofrimento para todos nós. Nós os tratamos como bebês, que não podem falar. Quanto mais tempo passa, mais eu lamento. Não aprendemos tantas coisas com a missão que justificasse a morte da cachorra”.