Foto: ex-prefeito Davi Gilmar, quando da lançamento do projeto de revitalização do centro.
O terreno do CTG e as coisas da cidade
Ao final das contas, virou e mexeu e o CTG Ramiro Barcelos não vai mais ficar no seu antigo terreno e a população também não vai ter um equipamento social público naquele espaço urbano central. Eis o resultado.
Eu estava no Muralha, então localizado em frente à rótula, na noite de temporal em que o CTG desabou, no final de janeiro do ano passado. Acontecia um show da Damaris Ortiz e do Luciano Belgrado no restaurante. Recordo até a canção que eles estavam tocando naquele exato momento e que, assim, por acaso, tornou-se a trilha sonora daquele episódio: Take Me To Church (Horzier). Depois, achei interessante a iniciativa da prefeitura de desapropriar o terreno em favor de um projeto público para o local, beneficiando a comunidade e indenizando o CTG.
Agora que a atual administração devolveu o terreno, alegando dificuldades financeiras, que são públicas e notórias, a diretoria do CTG, no seu direito, vai vendê-lo, visando, conforme as notícias, pagar custas judiciais e se transferir para outra área. Assim, o local tem grandes chances de virar um empreendimento privado, sabe-se lá qual.
Como cidadão eleitor e contribuinte da cidade, queria dizer que lamento esse resultado: sem CTG e sem espaço público. E reflito e pergunto, a propósito dessa questão: Charqueadas possui um projeto de cidade, um norte, um perfil? Sua classe política, dirigente e comunidade têm um projeto de cidade? Nós temos um projeto coletivo e público para nossa cidade, de longo alcance, independente das conjunturas de cada administração?
As iniciativas, por aqui, vêm de fora (ciclos econômicos do charque, do carvão, siderúrgico e penitenciário), sem nossa ação, apenas pelo fato de nossa localização hídrica nos beneficiar estrategicamente. Tenho impressão de que as coisas vão acontecendo e desacontecendo por combustão espontânea, ao sabor dos ventos e do oxigênio por ele trazido de outras paragens. Foi o mesmo com os natimortos Polo Naval e Jacuí I: pegamos carona em iniciativas formuladas fora. Aliás, o Jacuí é nosso trunfo, mas estamos de costas para ele, sem um plano de como usá-lo em nosso favor. Nem pensamos nisso, é o fato. O rio está lá, nós estamos aqui e é isso. Ponto?
Isso é típico de cidades que não têm projeto próprio. Por isso patrolam um cemitério para (dizem) ocupar o terreno; por isso, anos atrás, o Casarão da Colônia (Solar dos Barcelos) foi posto abaixo; por isso o Clube Americano está em ruínas, esperando para, quem sabe, ser patrolado também; por isso o Baar Xarqueadas ainda não é um espaço cultural; por isso a Casa de Cultura é uma ruína no Parcão; por isso a ciclovia nunca foi ampliada; e é por isso também que o Uber vem pra cá fazer concorrência predatória contra os taxistas, que estão legalmente cadastrados junto ao poder público, contribuindo para a economia local sem mandar 25% para o exterior. São alguns exemplos, apenas, pontualmente escolhidos.
As coisas vão acontecendo e desacontecendo, é isso? Não tem nada a ver com falta de $, mas sim com falta de pensarmos a cidade. Não há vento bom ou ruim para nau sem rumo, como dizem. É o caso, ou, pelos menos, é o que me parece ser o caso.
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MOACYR SCLIAR – Esse ano, em março, o grande escritor gaúcho completaria 80 anos. Menciono esse fato agora, pois na noite de 17 de outubro de 2006 Scliar esteve em Charqueadas palestrando no Solar Shopping, durante o II Sarau Literário. Já um “imortal” da Academia Brasileira de Letras, encantou as pessoas com sua simplicidade, disponibilidade e educação exemplares. Deixo esse registro e dou esse testemunho, ressaltando que um intelectual com esse perfil faz muita falta.
300 ANOS – Em 1717, foi descoberta por pescadores, no Rio Paraíba, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, motivação da grande festa religiosa comemorada ontem.
Texto a ser publicado no jornal Portal de Notícias em 13.11.2017 (sexta-feira), nas versões impressa e online: http://www.portaldenoticias.com.br