Foto - Primeiro Programa Pinga Fogo, julho de 1971
Chico Xavier no Pinga Fogo: ontem, sobre hoje
O médium brasileiro de orientação kardecista Francisco Cândido Xavier sabia (e afirmava) que seu desencarne se daria num dia de grande alegria para o povo brasileiro. E assim foi, há 15 anos, em 2002, quando, horas após a conquista do pentacampeonato mundial pelo Brasil na Copa do Mundo no Japão, faleceu, aos 92 anos. Chico (como gostava de ser chamado), psicografou cerca de 450 livros, dos quais dizia não ser o autor, doando, assim, cada centavo de seus direitos autorais para obras de caridade a que sempre esteve vinculado.
No ano de 1971 concedeu, em 28 de julho, entrevista ao programa Pinga Fogo da TV Tupi de São Paulo, canal 4. Nele, respondeu a questões formuladas por uma banca de jornalistas, pelo auditório e via telefone, durante duas horas e quinze minutos (não contando o tempo de intervalos). A repercussão foi tamanha e tal que uma segunda entrevista foi realizada em 21 de dezembro do mesmo ano, com duração de três horas e meia.
Revendo o registro em DVD do Pinga Fogo com Chico Xavier, de 46 anos atrás, percebemos questões de hoje que, ontem, igualmente, estavam na ordem do dia. Temas como computadores, operação plástica, pena de morte, planejamento familiar, transplante de órgãos, futebol, jogos de azar e armas de extermínio estavam entre os levantados durante o programa. Chama a atenção que dois, relativos a tolerância religiosa e sexual, foram inquiridos nas duas ocasiões: opinião do médium, sob os auspícios da doutrina espírita kardecista, acerca da Umbanda e da homossexualidade.
Sobre o primeiro assunto, respondeu Chico, em 28 de julho: "Nós respeitamos as religiões de Umbanda como devemos respeitar todas as religiões. (...) eles organizaram uma religião sumamente respeitável também. Eles também veneram Deus com outros nomes, veneram os emissários de Deus com outros nomes. Respeitamos todos e acreditamos que em toda a parte onde o nome de Deus é pronunciado o bem pode se fazer".
Na mesma data, sobre a homossexualidade, disse: "O homossexualismo, tanto quanto a bissexualidade, como a sexualidade, são condições da alma humana. Não devem ser interpretados como fenômenos espantosos, como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade. Aqueles que são portadores de sentimentos de homossexualidade ou bissexualidade são dignos de nosso maior respeito, e acreditamos que o comportamento sexual na humanidade sofrerá de futuro revisões muito grandes, porque nós vamos catalogar, no ponto de vista de ciência, todos aqueles que podem cooperar na procriação e todos aqueles que estão numa condição de esterilidade. (...) A criatura humana não é só chamada à fecundidade física, mas também à fecundidade espiritual. (...) Se as potências do homem (...), se todas essas potências foram dadas ao homem para a educação, para o rendimento do bem, isto é, potências consagradas ao bem e a luz em nome de Deus, seria o sexo, em suas várias manifestações, sentenciado às trevas?"
Em 21 de dezembro, novamente questionado, afirmou: "Acreditamos que a legislação, no futuro, em suas novas faixas de entendimento humano, saberá criar dentro da família, sem abalar as bases da família, a legislação humana saberá incorporar à família humana todos os filhos da humanidade, todos os filhos da terra, sem que a frustração afetiva venha a continuar sendo um flagelo para milhões de pessoas. (...) devemos ter esperança de que todos os filhos de Deus na terra serão amparados por leis magnânimas, com base na família humana, para que o caráter impere acima dos sinais morfológicos e haja compreensão humana bastante para que os problemas afetivos sejam resolvidos com o máximo respeito de nossas leis e sem abalar um milímetro o monumento da família, que é a base do Estado."