Por que Temer não caiu de Maduro,
ou melhor, Brasuela X Venezil
O fato mais nauseante e tragicômico que vi recentemente foi o presidente Michel Temer, na busca desesperada por alguma conexão com o grosso da população brasileira, ministrar lição de moral para seu colega venezuelano Nicolás Maduro, que deu dura resposta.
Há algum tempo muitos diziam que o PT queria transformar o Brasil numa Venezuela e, geralmente, eram os mesmos cidadãos que afirmavam ser o PT comunista. O PT, comunista? Nem os comunistas são comunistas hoje em dia! A Rússia, cem anos depois do outubro de 1917, não é mais comunista. Como o PT, com sua aliança com setores empresariais e conservadores, com o José Alencar de vice no governo Lula e o Temer (o Temer!) no governo Dilma, poderia ser comunista? Che Guevara, esse sim, que era comunista, estaria se revirando na tumba ao ouvir isso, caso não tivesse sido cremado pelos militares bolivianos e estadunidenses há quase 50 anos, em outubro de 1967.
Mas, mais que uma ofensa para aqueles que realmente já foram comunistas nesse mundo, a comparação política, econômica, demográfica e geográfica entre países tão díspares só pode gerar um monstrengo híbrido, que não é nem um nem outro: Brasuela ou Venezil. Não importa a ordem dos fatores, eis que não altera o não-produto, que nada explica e tudo mistifica ideologicamente. As similaridades de nota entre ambos os países são: possuírem atualmente presidentes com frágil amparo popular; terem sido afetados pela baixa internacional do preço do petróleo; apresentarem um quando de crise de suas instituições democráticas; e, até bem pouco, serem governados por presidentes de esquerda. Ponto. É isso.
O PT fez uma aliança conservadora política e econômica, a fim de garantir a governabilidade em âmbito federal, com partidos como PMDB, PP e PSD (que, agora, com Temer presidente, governam com PSDB e DEM, a legítima junção da fome com a vontade de comer, conforme se vê no Congresso Nacional); já os bolivarianos, sob comando de Hugo Chaves, meteram o pé na porta e chutaram o balde. O PT tentou promover uma aliança de classes; Chaves fez o confronto de classes. Quem não entende isso, não entende por que Temer não caiu de Maduro e o que este último tem a temer, que é algo muito maior do que a fanfarronice de Temer, ou seja, a fanfarronice bélica de Donald Trump, presidente dos EUA, aditivando a crise política e econômica interna.
Temer (eis a força que o mantém no cargo) entrega para os grandes empresários, com o apoio das empresas de comunicação, o bolso dos assalariados, por intermédio das reformas em voga que, escandalosamente, não passaram pela aprovação popular via urnas eleitorais. Pior: com as pesquisas demonstrando que a maioria do povo é contra tais medidas. Maduro, ao contrário, herdeiro do governo de um país conflagrado, tem de enfrentar a ira desses mesmos setores que, no Brasil, são aliados do governo. Numa situação de desvalorização do petróleo (fato sazonal na história da Venezuela), a maior parte da população, principalmente a classe média, está contra seu governo. Maduro tem sua força no Executivo, no Judiciário e nas Forças Armadas. Ponto. É isso.
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MESTRADO – Importante conquista o Mestrado em Educação Profissional que iniciou esse mês no IFSul Câmpus Charqueadas. Felicitações aos mestrandos aprovados na concorrida seleção para o curso, em especial para os cinco daqui de nossa região.
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DRUMMOND – Ontem fez 30 anos do falecimento do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores nomes da literatura nacional.