Da trama da novela Explode Coração, de 1995, confesso não lembrar. Não sou um fã de novelas. Aos 7 anos, menos ainda. Pra mim o que havia de importante era Bebeto “A Jato”, personagem de Guilherme Karan, que ao som de “Esse meu cabelo rock” (João Penca e Seus Miquinhos Amestrados), canalizava a energia e o brilho do Rei do Rock. Foi a partir dele que comecei a puxar as suíças do cabelo para frente, imitando costeletas, adotei a jaqueta de couro (no meu caso, sintético) e, é claro, o topete fazendo alusão ao meu novo ídolo: Elvis Aaron Presley.
Eu pedia fitas K7 do roqueiro e cantava uma versão única de “It's Now or Never”, com um inglês digamos “adaptado”. Havia os desenhos que assistia na TV de 14’’de casa, onde a figura do cantor era lembrada. Em uma edição da Turma da Mônica (1996), uma das histórias tem como tema a morte, não a dele especificamente, mas morte em geral. Entretanto, a dele era mencionada. Nessa edição, aparecia a fila de fãs no túmulo do ídolo, uma peregrinação verdadeira que se repete no decorrer dos anos. Ali aparecia a frase, já um lugar comum, talvez, até, um quase mantra: “Elvis não morreu”. De certa forma, essa afirmativa não é de todo errado.
Em 16 de agosto de 1977, em Memphis, na sua residência Graceland, falecia o Rei. Nessa mesma data, 11 anos depois, em São Jerônimo, esse que vos fala, vinha ao mundo. Elvis Presley, com certeza, é definitivo. Quarenta anos depois, um cara, que não presenciou sua carreira, em um hemisfério diferente, em outra língua, escreve sobre ele.
Obviamente Elvis não é incrível apenas pelas minhas palavras. Mesmo leonino, ainda me resta certa modéstia. Numa Inglaterra pós-guerra, cinzenta e com o delay de mais ou menos um ano da percepção do que era cena musical e cultural nos EUA, um rapaz pensa “Elvis deu cor pro mundo”. O jovem: Keith Richards. Sem dúvida, uma opinião muito mais forte e interessante que a minha. O guitarrista dos Stones viveu esse período. Tinha 13 anos quando Elvis estourou.
Eu tento imaginar da perspectiva dele. No meio dos escombros e de todo o preto e branco das ruínas da Segunda Guerra, aquela música o levou para outro lugar. De certa forma, literalmente. Obviamente, tenho outro tipo de recordação. Lembro-me de correr pra ver um comercial com a música do Elvis. Era um da Mizuno: um rapaz trabalhando e cantando “Love me Tender” como se estivesse gaguejando. Na verdade, ele ouvia a música travando em seu disckman, por culpa dos amortecedores de seu tênis, que, “claro”, não era um Mizuno Serius Performance.
Outra referência ao homem nascido em Tupelo, Mississipi, ao dia 8 de janeiro de 1935, criado em Memphis (Tennessee). No filme Forrest Gump, onde o menino, Forrest, teria ensinado a “dança pélvica” de Elvis, os passos que faziam as emissoras de TV da época filmar o ídolo apenas da cintura para cima, nos programas ao vivo.
A dança, a música, a voz, a presença, a beleza, a singularidade. Adjetivos de quem transcende o tempo e a matéria. Não sou um religioso praticante. Talvez, por isso, veja a morte e não consiga ter uma visão elaborada sobre ela. Acho que estamos vivos enquanto nossa memória é preservada, nossa obra esta sendo vivida e temos a capacidade de gerar emoções ou transmitir sentimentos aos que vem depois de nós. Com certeza, o Rei do Rock n’ Roll faz isso até hoje. Como uma estrela que morre, mas ainda podemos ver seu brilho.
(*) – Professor de Educação Física, Charqueadas. Texto alusivo aos 40 anos da morte de Elvis Presley.