Foto - Renato Portaluppi e Sant"Ana, na Arena Grêmio - Anderson Fetter, Agência RBS
PAULO SANT'ANA: ADEUS, CRONISTA!
Morreu quarta-feira Paulo Sant’Ana, um dos maiores cronistas gaúchos do século XX. Personagem identificadíssimo com o Grêmio, do qual era torcedor fanático símbolo. Entretanto, mais do que isso, sempre foi um cronista, seja nas páginas do jornal Zero Hora, seja na TV. E, diga-se, um mestre da crônica, estilo literário basicamente jornalístico.
Comecei a escrever crônicas influenciado, dentre outros, por ele. Cronistas, gremistas e simpatizantes do Brasil de Pelotas, temos muito em comum. Melhor, eu em comum com ele, eis que o mestre veio primeiro. E Sant’Ana, embora nunca tenhamos tido contato pessoal, é um mestre para mim, pelos livros e, principalmente, pela sua coluna jornalística.
A primeira crônica que escrevi aqui em 2014, “Crônica é vida”, foi sobre ele, referente a leitura de seu último livro, “Eis o homem”. Reproduzo um trecho:
“Começo o ano falando de crônica. Crônica é vida. Esse gênero literário tem tudo a ver com o verão e, para quem está de férias, ler um cronista é uma boa opção. (...) E ao iniciar 2014, mais uma vez com crônica, novamente escrevo sobre o cronista Paulo Sant’Ana, do qual já disse algo em ‘Lágrimas de areia’, publicada em 28.01.2013. É que estou lendo ‘Eis o homem’, seu livro de 2010, que reúne 55 crônicas que contam sua história de vida. Realmente, muito bom o Sant’Ana.”
E também republico uma parte, editada, de “Lágrimas de Areia”:
“Hoje quero falar de um grande cronista gaúcho (gremista) e brasileiro há 42 anos na lida: Paulo Sant”Ana. Cronista clássico e típico, ‘de jornal’ (desde 1971 é colunista de Zero Hora), com apenas três livros editados: O Gênio Idiota (1992), O Melhor de Mim (2005) e Eis o Homem (2010). Como traço em comum com vários cronistas e literatos de sua época (Braga, Drummond, Moraes, etc), Sant’Ana tem profissão fora da imprensa, no serviço público (é delegado de polícia aposentado). Eis o breve currículo do homem, que leio e admiro desde que me conheço por gente. Uma influência.
Mesmo estando com a saúde consideravelmente debilitada nos últimos anos, Sant’Ana continua na ativa, dando lições acerca do alcance social que esse gênero literário pode ter ao abordar não somente temas leves do cotidiano, mas também opinando sobre questões fundamentais da vida em sociedade.
Dia 17 publicou a crônica ‘A Areia do Jacuí’, onde comentou uma ‘reportagem da RBS TV divulgada no domingo, quando todos ficamos sabendo que diariamente, à noite, caravanas de grandes barcos se dirigem às margens do Rio Jacuí e retiram das margens do rio milhares de toneladas de areia para construção, profanando a natureza e terminando por lentamente ir assassinando o rio, que com essa devastação está literalmente perdendo a condição de existir’.
Mesmo repercutindo uma notícia de TV, o cronista cumpriu seu papel sendo enfático ao dar sua opinião: ‘Os safados que estão retirando toneladas de areia das margens do Jacuí sabem que são patifes, pois foi mostrada na reportagem que eles retiram areia do rio todas as noites, não o fazem de dia porque seriam flagrados e responsabilizados. São canalhas. E lucram fortunas com essa retirada ilegal de areia das margens do Jacuí’.O texto é Sant’Ana em seu estilo puro: forte, incisivo, visceral e direto.”
Vai para o céu azul, mestre cronista, para junto de Deus. Meu respeito e admiração.
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O CAPITAL – Na cidade de Londres, em 25 de julho de 1867, Karl Marx concluía o texto que prefaciou a primeira edição de O Capital. O livro só seria lançado em 14 de setembro do mesmo ano. Logo, terça-feira fará 150 anos que a obra, talvez a mais influente dos séculos XIX e XX, era concluída. Escreverei sobre ela.