Foi essa a expressão utilizada por um professor do IFSul para caracterizar a reforma pretendida pelo governo Temer, durante sua fala no ato público realizado em Charqueadas, na quarta-feira.
Organizada pelos sindicatos dos Municipários, Metalúrgicos, Mineiros, Penitenciários e pelo Assentamento 30 de Maio, a manifestação atraiu também estudantes e professores das escolas municipais e estaduais e trabalhadores da Corsan, com apoio do Sindiágua, levando cerca de 200 pessoas a se concentrar em frente ao Clube Tiradentes, às 17 horas.
Desde junho de 2013, o Brasil vive uma efervescência popular que tomou as ruas em vários momentos, motivada por questões de âmbito nacional ou, como no caso do preço das passagens de ônibus, que evoluíram para tal. Esse processo se agudizou posteriormente, na eleição presidencial de 2014 em diante, bipolarizado pelos movimentos pró e contra o impeachment.
Em Charqueadas não foram verificadas mobilizações de rua nesse período, à exceção do OcupaIFSul, na segunda metade de 2016, contra a “PEC do Congelamento”. Logo, o ato do dia 15 foi a primeira atividade pública que trouxe às ruas da cidade diversas categorias profissionais das esferas pública e privada unificadas em torno de uma pauta de luta comum, articuladas a uma demanda nacional, desde 2013.
Isso se deve, por um lado, ao fato de que a reforma atingirá em cheio o conjunto dos trabalhadores assalariados e, por isso, ocasionou uma rara unidade das centrais sindicais brasileiras que convocaram o protesto nacional; por outro lado, no caso específico de Charqueadas, é a continuidade de um processo de protagonismo popular e classista que vem desde os atos contrários à “taxa do lixo”, passando pelas ações do funcionalismo estadual em resistência às medidas adotadas pelo governo Sartori (que se acirraram em dezembro último e ainda estão na pauta da Assembleia Legislativa) e em ações como o OcupAssis e OcupaIFsul.
A Previdência Social é um importante instrumento de distribuição de renda no Brasil, um país que apresenta um dos maiores índices de concentração de renda do planeta, mesmo sendo uma das maiores economias deste. O peso que o governo está pondo na reforma, aproveitando o vácuo político pós-impeachment a fim de aprová-la rapidamente, atendendo ao interesse dos grandes empresários, recebe a cobertura do braço ideológico liberal destes, a mídia, que ignorou a mobilização pré dia 15 e que, no dia, valeu-se da nova “lista de Janot” como cortina de fumaça no intuito de desviar a atenção do povo e ter um álibi para justificar o pouco espaço editorial dado aos protestos na quarta-feira.
São estratégias que objetivam colocar no bolso do andar de baixo da população o sacrifício do ajuste fiscal, blindando o andar de cima. Por tudo isso, está corretíssimo o professor: é mesmo uma deforma da Previdência. Todavia, não se trata de um jogo jogado. Bem longe disso. Foi o sinal que as ruas, em Charqueadas e no Brasil, enviaram.