(Toque de celular: canção Diamonds Are A Girl’s Best Friends.) - Alô. - Oi Marilyn. - Oi João. Fala. - Marilyn, liguei pra te dizer que sonhei contigo ontem. - É mesmo? Que legal! Conta. Como foi? - Nos estávamos conversando, deitados sobre uma cama... - Como assim, "deitados sobre uma cama"? Eu estava vestida, pelo menos? - Mas claro! Com o Chanel nº 5... - Abusado! Estás proibido de sonhar comigo! - Ah, mas... - PROIBIDO! - Snif snif snif
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TELEFONE CENTENÁRIO - Há 100 anos, no carnaval carioca de 1917, o samba "pelo Telefone", de Ernesto "Donga" dos Santos, era o sucesso do momento. Lançado em disco de 78 rpm pela Odeon em dezembro do ano anterior, é considerado o primeiro samba gravado (há controvérsia).
Foi composto por Donga e outras nove pessoas (entre elas, Pixinguinha e Sinhô), numa roda de samba no quintal da casa de Tia Ciata, mas o sambista registrou a canção com crédito apenas para a parceria de Mauro Almeida, jornalista que ajudou com a letra: “O chefe da folia / Pelo telefone manda me avisar / que com alegria / Não se questione para se brincar”. É a segunda música incluída na lista que Nelson Motta fez em seu livro "101 canções que tocaram o Brasil" (Estação Brasileira, 2016). Fica o registro, pertinente nesse feriadão de carnaval que se aproxima.
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COLUNA PRESTES - Em fevereiro de 1927 encerrava a grande marcha que ficou conhecida na história do Brasil como a Coluna Prestes, feito mais expressivo do chamado Tenentismo, movimento revoltoso encabeçado por oficiais de baixa patente do Exército contra o governo federal, inicialmente motivados por questões de soldo baixo e falta de armamentos. Ao entrar em território boliviano pelo Mato Grosso, com cerca de 620 homens, ao término da presidência do mineiro Arthur Bernardes, os revoltosos puseram fim a uma verdadeira epopeia que, em dois anos e três meses, percorrera 25 mil quilômetros por treze estados da federação, tendo iniciado em São Luiz Gonzaga (RS), com cerca de 1.500 militares liderados pelo capitão Luís Carlos Prestes.
Portoalegrense, filho de militar envolvido na proclamação da República, foi para o Rio de Janeiro ainda criança, onde cursou o Colégio Militar e se formou tirando nota máxima em todas as disciplinas. De igual maneira, na Escola Militar do Realengo, obteve as melhores notas da história da instituição (os ex-presidentes Ernesto Geisel e João Figueiredo chegariam perto de seu desempenho, anos depois), formando-se engenheiro militar em 1920. Essas informações podem ser encontradas e aprofundadas numa matéria muito boa, com 12 páginas, na edição 152 da revista Aventuras na História, de março do ano passado.
Fiquei pensando, ao refletir sobre esse fato ocorrido noventa anos atrás, sobre a grita da mídia conservadora contra a greve dos PMs do Espírito Santo: ora, num país onde os militares tiveram protagonismo político na própria proclamação da República, nos golpes de 1930 e 1964 e mesmo na Coluna, soa até inusitado o alarido provocado por uma greve de uma polícia militar estadual, não é mesmo? A imagem ovelha de coturno e boina não condiz com nossa história.
Texto publicado em versão editada no Jornal Portal de Notícias, edições impressa e online, em 24.02.2017:http://www.portaldenoticias.com.br