Neste domingo completar-se-ão dez anos da morte de Gecy Valadão, que ficou nacionalmente conhecido por seu nome artístico, Jece Valadão. Um dos grandes atores, diretores, roteiristas e produtores do cinema brasileiro na segunda metade do século passado, com mais de 100 filmes na carreira (só o ator Wilson Grey tem filmografia maior no Brasil).
Nasceu em 24 de julho de 1930 em Campos, Rio de Janeiro, mas foi criado em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo; logo, conterrâneo do “rei” Roberto Carlos e do produtor musical da Jovem Guarda Carlos Imperial. Tal qual o último, ficou conhecido como um grande “cafajeste”, tipo que interpretou em praticamente toda a sua filmografia e, também, em parte, em sua vida pessoal.
Filho de um ferroviário e de uma dona de casa, aos 16 anos saiu para “correr mundo”. Aos 17, em Passo de los Libres, Argentina, ocorreu uma briga no bar onde estava e a polícia levou todo mundo para a delegacia. Acabou no juizado de menores de Uruguaiana (RS), onde recebeu uma passagem de volta para Cachoeiro.
Lá, começou a trabalhar como locutor de rádio, profissão que exerceria na Rádio Tupi, no Rio de Janeiro, cidade em que começou sua carreira como ator de cinema, teatro e da nascente televisão. Foi na companhia Atlântida Cinematográfica (1941 – 1962) que fez seu primeiro filme, uma pequena “ponta” em “Também Somos Irmãos” (1949), dirigido por José Carlos Burle. Em 1955, sob a direção de Nelson Pereira dos Santos, atua em “Rio 40 Graus”, filme que alavancou sua carreira, pelo qual recebeu o prêmio de melhor ator do ano por seu desempenho no papel de um malandro carioca.
Já produzindo seus próprios filmes, rodou, em 1960, o paradigmático “Os Cafajestes” (lançado em 1962), com direção de Ruy Guerra, onde contracenou com Daniel Filho e Norma Bengell (foto). O filme fez sucesso no exterior, pela linguagem inovadora calcada nos princípios do Cinema Novo, e se tornou um marco do cinema nacional, por apresentar o primeiro nu frontal de sua história, uma cena de quase seis minutos de Bengell numa praia.
Aliás, a atriz foi contratada por Jece porque ele, um contumaz mulherengo desde a adolescência, estava “de olho” nela. Mas Norma não cedeu às investidas do cafajeste, o que gerou um causo muito engraçado: pouco depois, durante as filmagens de “Mulheres e Milhões” (1961), de Jorge Ileli, estavam tomando banho na piscina da casa do produtor Gilberto Perrone, num dia de folga, e ela “intimou” Jece. Pego de surpresa, o “machão” (apelido que recebeu de Chacrinha) “negou fogo” na hora H, “a única vez em minha vida”. A colega nunca mais lhe deu outra oportunidade.
Valadão foi casado seis vezes e teve nove filhos. Dentre suas esposas estão a atriz de teatro Dulce Rodrigues (sobrinha do dramaturgo Nelson Rodrigues), por quatorze anos, e a modelo e atriz Vera Gimenez (mãe da apresentadora Luciana Gimenez, enteada de Jece), por treze anos.
Sua autobiografia, “Jece Valadão - Memórias de um cafajeste”, Geração Editorial, 1996, além dessas e de outras impagáveis e impublicáveis recordações, traz interessantes reflexões e histórias sobre a arte cinematográfica e o cinema no Brasil, terminando por sua conversão, em 1996, quando se tornou evangélico (imperdível o vídeo do Youtube com o testemunho do ex-cafajeste). Todavia, Jece Valadão foi, sobretudo, um grande nome da sétima arte brasileira.