João Adolfo Guerreiro
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Textos
Guns em Porto Alegre: histórico!

Se você não curte rock nem Guns, deve estar pouco se lixando para esse título, mas se curte, vai sacar o lance, ao ler o texto a seguir.

21h20min – Inicia o esperado show Guns N’Roses em Porto Alegre, no estádio Beira Rio, com três do integrantes originais da banda, em 1986: Axl Rose (vocal), o “Cebedurão” do Guns; Slash (guitarra); e Duff McKagan (baixo). O show abre com It So Easy, do primeiro LP da banda, Appetite for Destruction. Pelas próximas duas horas e 40 minutos, as pessoas assistiriam a um grande show de hard rock.

O estádio Beira Rio, da perspectiva de quem está dentro do campo, é muito bonito. Sinceramente, difícil imaginar um jogador da casa conseguir perder um jogo atuando com apoio da torcida com estádio lotado, pois deve ser uma sensação muito boa jogar num local como esse.

1 - De início já vou dando um conselho pra vocês: não comprem ingresso pra pista a fim de assistir show em estádios de futebol, é uma bosta. Além de ser mais caro (400 pila, no caso), é difícil ver a banda, eis que os caras da platéia hoje em dia são muito altos (a não ser que você tenha mais de 1.85m de altura) e, assim, você acabará assistindo o show pelos telões em alta definição. Tem também o fato de que, lá, você vai ter de ficar em pé por horas e, se tiver mais de 40, isso já não é um desconforto que passe despercebido pelo seu corpo, principalmente pelos membros inferiores. Ou compre pista premium, que é o dobro do preço, mas pelo menos você fica perto do palco e com boa visibilidade, ou vá para as arquibancadas, sem dúvida, eis que, nelas, além da comodidade, tu consegue enxergar a banda, seja do jeito que for, pagando até menos da metade do preço da inóspita pista.

No show do Guns, tem a gurizada quarentona e cinquentona dos anos 1980, a gurizada trintona e quarentona dos anos 1990 e a gurizada de verdade de agora, muita gente na casa dos 18, 20 anos. É um público que se renova e leva cerca de 50 mil pessoas (foi o que calculei a olho nu) a um grande estádio de futebol, interessante isso.

2 - Olhando para a banda, pelo telão, dá pra ver que as minas da década de 1980 deveriam estar lamentando que o Axl não é mais aquele: de gato virou um são bernardo albino. Bom, elas também já não devem provocar assovios dos operários de obra quando passam, a vida é dura pra todo mundo, tanto pra elas como para o Axl, viver é sobreviver. Na parte vocal, ele é ainda superior a muita gente da concorrência que ainda segue e surge por aí, pois sua voz sempre foi única, afinada e de longo alcance, embora ela tenha perdido em potência e intensidade. Mas estou comparando o Axl com ele mesmo aos 20 anos, logo, ele ainda é um baita vocalista de hard rock, com interpretações viscerais das canções, como tem de ser.

Confesso que fiquei surpreso com o desempenho do Slash, ele está melhor técnica e musicalmente do que era, se compararmos seu desempenho ontem com o DVD de 1992 do Guns gravado em Tóquio, o Use Your Illusion I e II. Principalmente nos improvisos a gente observa isso, ele costura rápido e legal as coisas, em velocidade, explorando tensões harmônicas com muito feeling, não só fritação de sobe e desce escala. Eu não esperava por isso, ainda mais para um cara detonado que usa um desfibrilador dentro do peito (leiam a autobiografia dele, “Slash”, editora Ediouro). Mas é claro que, se para os vocalistas a idade chega lá pelo início dos 50 anos, para os guitarristas a longevidade técnica é maior, pois vejo caras com 65 debulhando. Por outro lado , fiquei olhando: ele tá meio balofo, normal, embora não tanto quanto o Axl. Mas a vasta cabeleira ainda continua sem brancos se insinuando. Será que o cara pinta o cabelo? O Axl deve pintar, mas ele não é um rocker como o Slash e, para mim, não existe atitude menos rock setentista (a alma do som do Guns e da guitarra de Slash) do que o cara pintar o cabelo. Entretanto, o Slash é filho de uma negra estadunidense com um branquelo inglês, e os afro, mesmo mestiços, resistem mais à baixa da melanina com a idade. Mas puxa vida, o que interessa isso, não é mesmo? Vou apagar. Não, vou deixar.

Duff está em excelente forma física, parece quase uma uva passa de 25 anos o cara, tri saradão. Quem já leu a autobiografia dele (“É tão fácil”, editora Rocco) sabe o motivo, o cara se “limpou” e virou um atleta semi-profissional. No baixo, também permanece intacto seu desempenho.

Já nos membros não históricos da banda, o Dizzy Reed, tecladista, continua desempenhando legal, do mesmo jeito que podemos rever nos DVDs de Tóquio. O guitarrista Richard Fortus, desde 2002 no Guns, é fera, pode ser o guitarrista principal de qualquer banda. Já tinha visto ele no show em Porto Alegre em 2010, na Fiergs (eles retornaram lá em 2014, mas nessa apresentação eu não fui), junto com o (igualmente muito bom) “Slash cover” DJ Ashba e com o (excelente) Bumblefoot, formando um poderoso trio de guitarras. Ontem, ele mandou ver muito bem, principalmente no instrumental em que ele fez solo de Wish You Were Here, do Pink Floyd, e Slash o da parte final de Layla, de Eric Clapton. Também em Knocking on Heavens Door ele mandou frases e solos que mostraram quem ele é. Da tecladista Melissa Reese não tenho o que falar, foi difícil distinguir o trabalho específico de cada tecladista durante o show, ainda mais que ela não apareceu em partes solo.

3 – Por falar nisso, o som de ontem não estava tão bom quanto o de 2010, pois não dava para ouvir claramente a voz de Axl e a guitarra de Slash em algumas partes. Pode ser porque em 2010 eu fiquei mais perto do palco e agora na (argh) pista. Mas a estrutura de som, luz e telões era padrão, como é praxe nesses grandes eventos. A estrutura estava muito boa, pois o Beira Rio é um estádio bonito e moderno, que permite um ótimo fluxo de entrada e saída de pessoal. Já os preços, aquela roubalheira descarada de sempre: cachorro do Rosário à 18 pila, latinha de Budweiser à 13, água mineral à10, camiseta do show à 80, por aí. Na latinha de Bud tinha a vantagem da gente ganhar um copo personalizado do show, legal para guardar de recordação.

4- O repertório foi o que se esperava em um show de quase três horas: hits e mais hits da banda. Particularmente, gostei mais da abertura com Chinese Democracy em 2010 do que com essa com It So Easy, pois o riff de guita em power chords da primeira é impactante. É mais fácil dizer o que eles não tocaram, das mais conhecidas: Patience, Simpaty For The Devil, Used To Love Her, One In A Million, Since I D’ont Have You. Eu senti falta de Pretty Tied Up. O resto eles tocaram tudo e, a cada uma delas, delírio.

O pessoal reagiu especialmente, como era de se esperar, a Estranged, Welcome To The Jungle, Sweet Child O’Mine, November Rain (no primeiro solo do Slash nesta canção o estádio veio abaixo), Knocking On Heavens Door, ao instrumental solo de Slash, You Could Be Mine, Don’t Cry, Live And Let Die, Civil War, Rockett Queen, Nightrain e Paradise City, que encerrou em grande estilo o show, às 23h56min.
Histórico. Concorda?
 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 09/11/2016
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