João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Chorei por você num sonho

Eu chorava. Muito. Demais. Copiosamente. Acordei com aquela sensação mista de aperto e de alívio. Fui te procurar para ver como havia passado a noite. A ver seu corpo coberto, parei.

- Ele morreu? Como assim?
Ela apenas me olhou e deu de ombros, sem ter o que falar. Existem coisas que não precisam ser explicadas. A morte é uma delas. Não há o que ser dito.

Fiquei olhando pra você, surpreso e chocado. Não passava pela cabeça de ninguém que isso fosse acontecer. Tu estavas bem, medicado. Você sempre fora de ter doenças mesmo, estávamos acostumados com isso, tratávamos-te e passava, sempre. Entretanto, agora você estava ali. Ou melhor, não estava. Alia jazia seu corpo, rijo e sem calor, apenas. Os olhos verdes e a boca, abertos.

Você sempre foi o meu preferido, desde pequeno. Todos sabiam, não havia como disfarçar. Recordo de você tentando escalar as grades do portão para sair, bem novo ainda. Eu observava sua determinação e a admiração e o afeto brotavam em mim. Tu eras o mais esperto dentre todos, aquele que mais interagia. Foi crescendo e mostrou-se afável e carinhoso com todos, um temperamento calmo, uma criatura amorosa.

Eu chegava em casa e você era o primeiro a ir me recepcionar, carinhosamente. Fomos criando uma intimidade toda nossa, impartilhável com os demais. Tu era o único que eu ajudava a descer do muro. Os outros pulavam, você ficava lá, fitando-me com teus belos olhos verdes, esperando eu estender as mãos e te baixar. 

Agora você não vai mais estar aqui. Não vai mais ficar ao meu lado nas tardes de sol, embaixo das árvores, sobre a terra. Agora ficará sob a terra, nossa amada terra, parte de nossa feliz história, terra em que você nasceu.

"A vida, quando acaba, cabe em qualquer lugar". Pensava nessa canção do Humberto Gessinger enquanto cavava sua cova, ali, debaixo das árvores. A vida, ah, a preciosa vida. O que ela vale? Na Segunda Guerra Mundial valia menos que um cigarro, que um copo d'água, que uma barra de chocolate, que algumas horas para dormir numa cama quente. Não valia nada, nem era considerada. Já para um grupo religioso indiano (os jainistas, se não me engano), por outro lado, vale muito. Tanto que eles não caminham à noite para não pisar sem querer em algum pequeno inseto. Nesse caso, a vida vale muito, demais, ela é tudo.

A vida é tudo o que possuímos, de fato, mas tem o exato valor que damos a ela. É da mesma forma com relação a vida dos outros. A sua vida valia muito para mim. Agora, você será apenas uma lembrança.

Não derramei uma lágrima por você. Minha alma já havia chorado, no sonho. Você, creio, deve ter pensado em mim quando dos seus últimos suspiros, deve ter sentido dor e medo e desejado minha presença. Sei porque via isso em seus belos olhos verdes por esses dias e, por tal motivo, dedicava-te mais atenção do que de costume. Quando fui dormir, você estava bem, puxando conversa, não me passou pela cabeça que esavas no epílogo de sua adorada existência. Por isso, descuple eu não estar contigo nesse momento, eu sinto muito, muito mesmo, demais, por mim e, principalmente, por você, por não estar ao teu lado no momento em que tu queria e precisava.

Tchau, meu querido. Sentirei tua falta. Muito. Demais.

 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 02/11/2016
Alterado em 02/11/2016
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