Dante em Torres
Na noite de sexta-feira passada, assisti a um show de Dante Ramon Ledesma na Pizzaria Panzerotti, em Torres.
A pizzaria não estava lotada. Contudo, quem foi aplaudiu e se emocionou. Dante está com a saúde frágil, teve de ser auxiliado para subir no palco assumir o bumbo leguero e a voz. Logo no início, já falou sobre o AVC hemorrágico que teve há dois anos, informando que passou cinco dias em coma, dezessete na UTI e mais de um mês hospitalizado. O braço e a perna esquerdas praticamente sem movimentos foi a sequela. A voz perdeu muito pouco da força original. Ele disse estar agradecido a Deus por ainda poder estar ali, levando sua arte adiante.
Acompanhado de seu filho Maximiliano Ledesma na voz e violão e pelo ótimo violonista Gilmar Varela, executou seu repertório conhecido, de canções socialmente engajadas, sempre conversando com o público. E aí é que permanece seu traço artístico fundamental: palavras nunca vãs, repletas de sabedoria tanto social quanto de vida, sendo ele um cantor com imposição moral, intelectual e artística sobre o público. Só quem já foi a um show de Dante para entender porque eu utilizo essas três palavras a fim de definir sua presença de palco.
Como, por exemplo, quando homenageou as professoras ao cantar Mercedita, contando a história de uma educadora popular argentina. Ao interpretar Guri, falou sobre a importância da família. Em Canto Alegretense, lembrou de Antônio Augusto Fagundes, destacando a figura humana sem par que, naquela noite, completava um ano de falecimento: quando chegou ao Rio Grande do Sul, queriam impedir que ele se apresentasse nos festivais nativistas devido ao seu sotaque, que "descaracterizaria" a cultura gaúcha. Fagundes o chamou para uma conversa e disse que renunciaria à presidência do IGF, mas que não assinaria uma determinação dessas.
E assim foi por toda a apresentação, a cada canção, aplaudidas com visível admiração e respeito pelo público presente. Uma noite para não se esquecer jamais. Aprendi um pouco mais sobre a vida nesse dia. Grande Dante Ramon Ledesma, valeu muito tê-lo assistido.
######
SAMUEL & GILSON no Uruguayo’s Restaurante
Sábado, 18 de junho, Samuel Vieira (voz e violão) e Gilson Baresi (saxofones alto/soprano e flauta transversal) se apresentaram à noite no Uruguayo’s Restaurante, em Charqueadas. Boa música: MPB, samba e rock, num formato duo que raramente se vê na cidade. Principalmente, também, porque pouco se toca samba e MPB na noite local, ultimamente.
Depois dos duos Gheller & Huzalo (violão e violoncelo) nos extintos Live Studio e Petiskus e Pradella & Rambor (violão e baixo acústico - "rabecão") no Tempero Literário (São Jerônimo), Samuel & Gilson me proporcionaram ouvir um bom cardápio musical com temperos instrumentais diferentes dos usuais.
Poderia escrever muito sobre a apresentação, mas prefiro destacar apenas dois momentos: em primeiro lugar, a interpretação que deram para Wave (Tom Jobim, imortalizada na voz de João Gilberto), com o sax alto de Baresi "soprando" suave e deliciosamente a melodia. Onde se ouve bossa nova na noite hoje em dia, aqui na região? Em segundo lugar, o requinte da harmonia que Samuel fez ao violão para Como Nossos Pais (Belchior). Deu outra cor e vida para a magnífica canção, enriquecendo-a. Foi muito prazeroso ouvir e perceber as variações de acordes que ele fazia.
Ao par dos cardápios musical e gastronômico, ainda pude "saborear" o bom gosto das telas de Andréa Berbigier ali expostas, o que somou pontos para o restaurante. Foi uma noite muito boa, cheia de tons e sabores interessantes para os sentidos.
Texto publicado em 1º/07/2016 na seção de opinião do jornal Portal de Notícias, versões impressa e online: http://www.portaldenoticias.com.br