Anestesia
Difícil se desligar do mundo.
Só quando se tenta, a gente percebe.
Ficar no mundo, tentando se afastar dele, nos traz essa percepção.
Num retiro, nos isolamos completamente, vamos de um extremo (o mundo) a outro (fuga); ficando no mundo, percebemos o limite de nossa imersão no mesmo. Nossos desejos, nossos vícios, nossos medos, nossos incômodos, nossas paixões nos assolam diariamente.
Procuramos na palavra, nos templos, em filmes, nos livros e na reflexão nos conectarmos noutra realidade, mas as coisas do mundo afloram em nós constantemente. E isso faz com que possamos ver que vivemos anestesiados no mundo.
Vivemos o mundo, mas somos isensíveis ao mesmo, a fim de escarparmos da sua e da nossa loucura, se é que essa palavra é aproriada, por ser demasiadamente extrema. Todavia, dá uma ideia do que é estar no mundo e conseguir conviver cotidianamente com várias situações deste e de nós mesmos, influenciados por ele, e seguir adiante, conectados às coisas do mundo, movendo-o.
A gente fica numa bolha: protegidos, mas assistindo a tudo; protegidos, não isolados. A gente observa as pessoas, o seu contato com o mundo e as coisas do mundo que estão em nós afloram todas nesses momentos. E então nos damos conta de nós mesmos no mundo, estranhando os outros, desnaturalizando neles (e em nós mesmos) o que antes nos parecia natural.
Anestesiados. Vivemos anestesiados. Por isso o suportamos e nos suportamos. Loucura é a imersão toral e inconsciente no mundo. Se não é loucura, é anestesia.