João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Morfeu, Grêmio, os Stones e os shorts jesuítas

Enquanto em Porto Alegre os Stones tocavam no Beira Rio e o Grêmio goleava na Arena, eu, em Charqueadas, dormia. Isso mesmo, a maior banda de rock em atividade, uma das precursoras do ritmo, tocando pela primeira (e provavelmente única) vez na capital e eu nanando; o meu time goleando e eu “nos braços de Morfeu”. Fui dar uma descansadinha às vinte e uma horas e acordei às três da madrugada!

Sabe gente, eu até tenho uns CD’s dos Stones em casa, mas não é A minha banda, entendem? Eu curto algumas canções, como Under My Thumb (que a RockLord sempre toca no Uruguayos Food, nas quintas à noite), Jumpin’ Jack Flash, Let's Spend The Night Together, Start me Up (essa é muito legal) e Satisfaction. Até fiquei pensando: tá, é um baita evento, são os Stones! Mas e daí? Comprar um ingresso caro, disputá-lo na internet, depois pegar fila na entrada... Não, não ia fazer isso por vocês, Stones, sorry. Depois do David Gilmour, do Robert Plant, do Guns e do Oasis, só o Jimmy Page para me fazer passar trabalho. Vou assistir o guitarrista Johh McLaughlin dia 30 no teatro do Bourbon Country, mas esse show vai ser na boa. Sabem quem é ele? Sim? Ok. Não? Procurem se informar, vale a pena.
Eu ia na Arena ver o jogo, mas vi que ia chover, estava cansado, daí perdi a vontade. Tem jogo contra o San Lorenzo e o Toluca ainda pra conferir em Porto Alegre. Assim, minha programação para quarta era ir no Consulado de Charqueadas assistir a partida. Era. Morfeu, já disse, levou a melhor.

Voltando ao assunto anterior para ir para outro, quero dizer que o curioso é que na mesma semana em que os Stones fizeram um show histórico em Porto Alegre, a cidade se viu às voltas com uma polêmica relacionada ao tamanho dos shorts das gurias que estudam no Colégio Anchieta. Bom, imaginei que esses shortinhos deveriam ser escandalosamente curtos, praticamente ginecológicos, para motivar tal celeuma. Fui ver no Google matérias e fotos sobre o assunto. Conclusão a que cheguei? Essa, que escrevi no Facebook: “Então essa polêmica toda no Anchieta é por shorts desse tamanho, que nem na foto? Ah, fala sério. Se a gurizada se ‘perturba’ com isso, não podem ir na escola e nem numa praia. O problema é com os caras”.

A postagem foi curtida por 37 pessoas e comentada por 10: três favoráveis aos shortinhos e sete favoráveis ao uso de uniforme escolar. É a democracia! Eu, particularmente, não gosto de uniformes em escola, tanto agora como quando era estudante. Todavia, essa é uma questão de opinião que não entendo assim tão importante no momento em que o governador parcela o salário dos professores, diz que não vai dar reposição e os manda comprar piso na Tumelero, isso sim, um problema sério para a Educação gaúcha.

Os jesuítas, que são donos do Anchieta, uma escola com ótimas referências e índices, desde o descobrimento do Brasil já se escandalizavam com o comportamento dos habitantes das terras tupiniquins. Num dos livros sobre História do Brasil do Eduardo Bueno, ele transcreve relatos dos padres à corte portuguesa reclamando horrorizados da promiscuidade em que os lusitanos para cá enviados viviam com as índias. Um deles, conforme diziam, chegava a ter uma prole de mais de duzentos filhos, com várias nativas!

Imaginem então, os Stones, a banda da “língua debochada”, da revolução sexual dos anos 1960, tocando em Porto Alegre e o pessoal debatendo os inofensivos shortinhos que as gurias da escola dos jesuítas usam durante verão tropical? Os imigrantes portugueses de antanho, nesse momento, devem estar pensando, lá do além: “Não sabem de nada, inocentes!” Esses shortinhos são burcas se comparados às índias desnudas. O Brasil, com certeza, está mais pudico que em tempos idos.

I can’t get no, satisfaction, oh no no no, hey hey hey!

Texto publicado na seção de Opinmião nas versões impressa e online do Jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenoticias.com.br
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 04/03/2016
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