Caras legais
Uma cara legal, dentre muitas outras coisas, é um cara educado, humilde, gentil, que te cumprimenta quando passa na rua, que presta atenção em você quando está conversando, que não desvia o olhar e tampouco fica atendendo celular, que não costuma falar mal dos outros para você. Um cara legal, quando está num dia ruim, parece uma moça; no seu normal, é quase uma donzela; e, nos dias em que está inspirado, é praticamente uma dama. Em suma, um cara legal é uma pessoa do sexo masculino extremamente agradável e positivo no trato social.
Existe um bom número de termos coloquiais que poderiam ser sinônimos de cara legal, como: gente boa, gente muito boa, gente fina, gente finíssima, cara tri, cara tri legal e também, o máximo do elogio, cara tri gente fina. Há mais algumas, mas fico com essas para dizer que prefiro o termo cara legal. Acho que essa expressão simples, direta e objetiva já dá conta de definir esse tipo de cara. E existem vários caras legais por aí. Uns que conheço, outros dos quais me falaram.
Um cara legal que tive o prazer e o privilégio de conhecer é o Gaúcho da Fronteira. Mas bah tchê, que cara educado e gentil! Foi tocar de graça lá no meu serviço, pois uma funcionária era colega de faculdade do filho dele e conseguiu o favor. Eu fui incumbido de esperá-lo na portaria. Na hora marcada, apontou na esquina o carro e eu, pelo chapéu e pela barba, vi que era ele ao volante, junto com outra pessoa na carona. Antes da portaria, havia uma placa informando: “Pessoas estranhas ao serviço, favor estacionar no lado de fora”. Ele viu a placa e desviou para o estacionamento. Fiz um gesto para ele vir com o carro até onde eu estava. O Gaúcho chegou e foi logo dizendo: “Bom dia senhor, eu sou o Gaúcho da Fronteira e este é o Fulano, meu gaiteiro. Nos convidaram para vir aqui tocar hoje”. Respondi que eu sabia quem ele era e o motivo de sua presença, que éramos gratos e que ele poderia entrar com o carro. Chegando no prédio administrativo, o Gaúcho foi de sala em sala se apresentando e cumprimentando todos os funcionários. Depois, fez o show. E não foram cinco ou seis canções, tocou por mais de uma hora, às ganhas, interagindo com o público. Ao final, agradeceu o convite e desceu do palco. Novamente, despediu-se de todos, apertando a mão de um por um, dizendo: “Mais uma vez, obrigado pelo convite e desculpe qualquer coisa”. Um cara legal esse Gaúcho da Fronteira.
Um outro cara legal, que eu não conheci, mas sobre o qual recebi excelentes comentários, foi o escritor Moacyr Scliar, quando ele esteve aqui durante o II Sarau Literário de Charqueadas, em 17 de outubro de 2006, à noite, no Solar Shopping, para dar uma palestra. O pessoal da Associação de Literatura, de forma unânime, falou que ele era muito solícito, educado e gentil. E olha que ele havia sido eleito para Academia Brasileira de Letras, em 2003: era, pois, um “imortal”. Entretanto, o homem era um poço de humildade, uma pessoa simples, que a todos atendia e dava atenção. Até hoje os literatos lembram dele com enorme carinho. Sem dúvida, Scliar era um cara legal.
Pensando sobre o pessoal de Charqueadas, cheguei à conclusão de que um dos caras mais legais que conheço aqui é o Marco Castilho, o Enéas. O Enéas é a simpatia em pessoa: também gentil, educado e comunicativo, sempre disposto a um abraço sincero e a uma conversa agradável. Não me lembro, em várias situações em que estivemos juntos na vida social, dele ter sido grosso com alguém, é de uma paciência enorme, tem pavio longo. O Enéas, com certeza, é um cara legal.
Você também deve conhecer outros caras legais, com certeza. E deve concordar comigo: caras legais fazem a vida social um ambiente melhor para se partilhar, não é mesmo? Vida longa para os caras legais!
Crônica publicada na seção de Opinião, na versão impressa e online, do Jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br/noticia.php?id=4521&tipo=E&editoria=15&include=NOTICIAS