Playboy brasileira, já quarentona!
Há 40 anos, em agosto de 1975 (
foto abaixo), surgia a primeira edição da Playboy brasileira, então denominada Revista Homem (só em julho de 1979 adotaria o nome da matriz americana). Playboy foi fundada nos EUA por Hugh Hefner, um jornalista com formação em psicologia e sociologia, em dezembro de 1953, quando trouxe um ensaio fotográfico com a atriz Marilyn Monroe. Hoje a publicação está presente em mais de 28 países.
Playboy sempre foi editada, no Brasil, pela Editora Abril. No início, teve de obter autorização da Censura para ser lançada, mediante limitações hoje bizarras como, por exemplo, poder mostrar somente um dos seios da modelo fotografada. Essa primeira edição vendeu 135 mil exemplares (a Playboy americana, até então, comercializava cerca de 60 mil exemplares no Brasil). Durante os anos 1970, 1980 e 1990 a publicação manteve um crescente e permanente sucesso editorial, trazendo em suas capas as mulheres mais populares e desejadas do país, principalmente atrizes de TV.
Ironicamente, em 1999 tivemos as edições mais vendidas por aqui: dezembro, com a Feiticeira (1.247.000 exemplares), e março, com a Tiazinha (1.223.000), ambas personagens sensuais de um programa apresentado por Luciano Huck na Band. A ironia vem de que esse período marcou o início do declínio da publicação, devido à popularização da internet, o que afetou o mercado editorial de publicações impressas como um todo. Atualmente, 71 mil pessoas assinam a Playboy brasileira, e suas vendas ficam na casa de 100 mil exemplares (contando os assinantes). Em maio deste ano, pela primeira vez, vendeu abaixo desse patamar: 99 mil exemplares.
Na edição de aniversário, este mês (
foto acima), Playboy traz, principalmente, 40 fotos com mulheres que foram capas da revista. Sinal dos tempos: nenhuma “celebridade” em ensaio especial, como seria o esperado. É possível que a relação custo/lucro não possibilite mais tal investimento. O cronista Xico Sá, numa curta entrevista à revista, comenta o fato: desejaria, no aniversário de 40 anos da publicação, ver alguém como a jeronimense Patrícia Poeta, jornalista da Globo, na capa de um número com tal significado.
Como Playboy sempre foi algo mais que uma mera “revista de mulher pelada”, a última edição vem com mais uma de suas reconhecidas entrevistas: a atriz Maitê Proença. Muito fraca, levando-se em conta a efeméride, que exigia, na minha opinião, um nome mais representativo do mundo político ou cultural. Nas reportagens especiais, daí sim, algo à altura da data: Negro Drama aborda a vida e a adaptação no Rio Grande do Sul dos imigrantes senegaleses, especificamente os que se estabeleceram em Santa Cruz do Sul e Erechim.
Playboy sempre foi uma revista masculina destinada a um público (pretensamente) mais sofisticado e, no Brasil, não fugiu a essa linha. Tanto que, em sua edição de junho de 1993, trouxe uma antológica entrevista com o maior playboy brasileiro de todos os tempos, o milionário carioca Jorginho Guinle, que gastou toda a sua fortuna curtindo a vida, morando em Hollywood e namorando grandes atrizes da época, como Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Romy Schneider, Anita Ekberg, Kim Novak, Jayne Mansfield, Veronicca Lake e Heddy Lammar. No texto introdutório à entrevista, Playboy afirmou: "...ele [Guinle] é o epítome do homem de Playboy: de bem com a vida, amante de seus prazeres, (...). Hugh Hefner poderia estar pensando nele quando definiu o leitor e personagem de Playboy".
Guinle já morreu, Hefner está com 89 anos e a versão impressa da Playboy brasileira é uma quarentona que, apesar de ainda inteira, já demonstra o desgaste pelo peso dos anos e, sobretudo, pelas novas tecnologias e suas consequencias práticas nos hábitos cotidianos de consumo cultural.
Artigo publicado na versão impressa e na seção de Opinião online do jornal Portal de Notícias:
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