João Adolfo Guerreiro
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Impeachment de Dilma pode ocorrer no curto prazo
 
Se os grupos políticos que trabalham para o impeachment da presidenta Dilma precisavam de um aval que legitimasse a abertura do processo na Câmara dos Deputados, a partir de alguma denúncia a surgir na CPI da Petrobrás, depois das manifestações do último domingo o conseguiram.

2.300.000 pessoas em 160 cidades brasileiras pedindo o “Fora Dilma”, “Fora PT” e “Impeachment” já é o suficiente. Se tais protestos continuarem, o que é provável, o processo no parlamento passará a ser inadiável, até. Somente uma improvável reação dos eleitores de Dilma, exigindo o respeito ao seu voto na última eleição, poderá gerar força política suficiente para salvar o governo do fim que se avizinha no horizonte próximo.
Há muito na conjuntura imediata a justificar tal análise:
 
1 – Com certeza os cidadãos que foram às ruas no domingo contra a corrupção e pedindo o “Fora Dilma” são, em sua absoluta maioria, pessoas que votaram em Aécio Neves no segundo turno, situadas majoritariamente na classe média (*1), reeditando as vaias durante a Copa e o Junho de 2013, agora sem os setores de esquerda não alinhados ao Planalto pedindo redução de passagens à sua frente.
Alguns fatos reforçam essa percepção:

a) – Em Porto Alegre, por exemplo, o protesto começou no bairro Moinhos de Vento, de classe média (*2).
b) – As manifestações foram mais fortes onde Aécio Neves foi mais votado no segundo turno (*3), como no eixo SP, PR, SC e RS. No Nordeste e em MG e RJ, o movimento ficou aquém destes (*4).
c) – Os “panelaços” que correram durante a entrevista coletiva dos ministros Rosseto e Cardoso, na noite do domingo, foram igualmente registrados em bairros nobres das grandes cidades, da mesma forma que os que ocorreram quando do recente pronunciamento da presidenta.
d) – O protesto, no exterior, aconteceu somente em países e cidades onde o candidato do PSDB venceu; onde a candidata do PT fez mais votos, não foram registradas manifestações.
e) Por último, e principalmente, as pessoas que votaram em Dilma no segundo turno já a escolheram mesmo com as suspeitas de corrupção sendo colocadas no debate eleitoral e, inclusive, sendo ampliadas pela revista Veja às vésperas do pleito. Logo, fizeram sua escolha com o entendimento dessa questão já superado, priorizando outros critérios ao dar o seu voto.
 
2 – A grande mídia flagrantemente apoiou o evento de domingo, divulgando-o insistentemente nas duas últimas semanas e realizando uma cobertura e análise positiva do mesmo, algo que não aconteceu em movimentos populares anteriores desde as Diretas Já. Em Junho de 2013, por exemplo, a mídia só começou a dar espaço considerável ao que acontecia quando as coisas tomaram um volume muito grande e, mesmo assim, com uma abordagem crítica que, com o desenrolar dos acontecimentos, passou a ficar positiva, ao perceber que o movimento fragilizava o governo federal.
 
3 – Convergência de ações no curto prazo:

a) – O protesto ocorreu no dia 15 de março, justo a data prevista pela Justiça Eleitoral para as inserções partidárias do PSDB, com propagandas na TV agressivas contra a presidenta Dilma. Não por acaso muitos dos líderes dos grupos que chamaram o protesto de domingo são ligados ao PSDB, como é o caso de integrantes do MBL – Movimento Brasil Livre.
b) – A grande mídia continua a dar voz a Aécio Neves nas avaliações sobre o governo e, sobre os protestos, de novo assim procedeu, reavivando o pleito do segundo turno e criando, de fato, um terceiro. Nessa linha, pessoas que deveriam ser ouvidas, como Marina Silva ou Luciana Genro, 3ª e 4ª colocadas nas eleições, não são consultados a emitir opinião, o que reforça uma preferência pelo PSDB e seu candidato em 2014 como uma saída para o pós-impeachment, nas eleições de 2018.
c) – Já nessa segunda-feira, dia 16, a Justiça Federal do Paraná determinou a prisão pela PF de investigados da Lava-Jato, aumentando o impacto dos protestos e do noticiário midiático sobre o tema.
d) – Um fato banal mas que não pode passar despercebido é a divergência entre Data Folha e a PM de São Paulo (onde o PSDB governa há 24 anos) acerca do número de populares presentes na capital: 210 mil na avaliação do primeiro, um milhão na do segundo. Embora a força visual do grande ato paulista seja inquestionável, na primeira avaliação, seriam 20 vezes mais pessoas que a manifestação pró-Dilma da sexta na mesma Avenida Paulista; na segunda avaliação, 100 vezes. É muita discrepância, uma discrepância que diminui ou aumenta em muito a repercussão do protesto paulista (*5).
 
Considerações finais

Os elementos rapidamente citados acima dão subsídios para a hipótese de que o processo de impeachment da presidenta no Legislativo Federal possa ocorrer em breve, no calor dos acontecimentos que se sucedem, e não por um longo processo judicial onde as chances de enquadrar Dilma são remotas, conforme vários juristas tem declarado.

A realidade é que, de qualquer forma, o protesto do domingo foi muito forte e, se comparado ao das entidades pró-Dilma na sexta, avassaladoramente superior. Parece que a direita encontrou o caminho das ruas, integrada às novas tecnologias sociais virtuais da contemporaneidade, enquanto a esquerda esqueceu, ficando atrelada ao modelo de mobilização dos anos 1960, calcado na modernidade.

Por outro lado, é inquestionável que a indignação com a corrupção e o descontentamento com a situação econômica estimulou às pessoas que foram às ruas. Não levar isso em conta é olhar com miopia para a atual conjuntura, pois, numa situação política ou econômica contrária, os lideres do movimento não conseguiriam mobilizar a classe média como conseguiram. Não perceber isso é ignorar como funciona, inclusive, o jogo democrático, incapacitando uma reação eficaz junto a sociedade.

Sem uma grande mobilização popular que lhe favoreça, repito, creio que o governo federal sucumbirá no curto prazo, atingido por uma solução legislativa que, inclusive, já vem sendo trabalhada por alguns articulistas da grande mídia que fazem uma “oposição jornalística” ao PT e ao governo.


(*1) - Pesquisa do instituto Data Folha sobre o perfil dos manifestantes na Avenida Paulista: http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/03/pesquisa-diz-que-47-foram-paulista-para-protestar-contra-corrupcao.html

(*2) - Pesquisas dos institutos Index e Amostra referentes ao perfil das pessoas que protestaram em Porto Alegre: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/03/institutos-de-pesquisa-fazem-levantamentos-sobre-o-perfil-dos-manifestantes-em-porto-alegre-4719348.html

(*3) - Resultado das eleições do segundo turno 2014, eleição presidencial: http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/dilma-vence-em-15-estados-aecio-em-12-e-no-df.html

(*4) - Números do site G1 sobre a participaçao nos protestos do dia 15 de março: http://especiais.g1.globo.com/politica/mapa-manifestacoes-no-brasil/15-03-2015/ 

(*5) - Matéria do jornal Zero Hora mostrando as diferenças entre o método de contagem do Data-Folha e da PM/SP: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/03/saiba-como-e-feita-a-contagem-de-participantes-em-manifestacoes-4719776.html
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 16/03/2015
Alterado em 18/03/2015
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