Tamanduá comendo formiga
Quando não entendemos ou desconfiamos de algo, ele nos parece estranho, tal qual um tamanduá tomando banho. Na medida em que passamos a compreender e atinamos quais são suas motivações, ele torna-se claro como a realidade da vida: tamanduá comendo formiga.
No domingo nós, gaúchos e brasileiros, vamos escolher o próximo governador desses pagos e o (a) presidente (a) de nosso “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”, como cantou o Jorge quando ainda era Ben.
Na esfera federal, pelo que assistimos no horário eleitoral e nos debates (*) entre os candidatos nesse segundo turno, estamos centrados na ética, no bolso e na barriga. Por um lado, a candidatura tucana fazendo das denúncias de corrupção no governo seu mote, avaliando a economia nacional como à beira da crise e prometendo continuar e ampliar todas as políticas de inclusão social do governo federal; por outro lado, temos a candidatura petista dizendo que a corrupção agora é investigada e não mais jogada para baixo do tapete e da escrivaninha do engavetador geral do governo FHC, avaliando a economia como segura num momento de crise internacional, preservando empregos e salários, e prometendo que vai igualmente continuar e ampliar as políticas de inclusão social que superlativou nos últimos 12 anos, a ponto da ONU retirar o Brasil do Mapa Mundial da Fome por ela elaborado. Basicamente, é isso.
No âmbito estadual, entre retrovisores, olhares para frente e para o passado, com ou sem propostas, acima ou entre os partidos, a boa política cede espaços às armadilhas sofistas do marketing (político), transformando-se em exercício prático de negação de si mesma. E, na reta final deste segundo turno, uma piada infeliz, sem graça e de extremo mau gosto fez troça dos professores estaduais ao defender que piso bom é o da Tumelero. A loja deve ter adorado a propaganda gratuita, mas os educadores se sentiram esnobados, visto que já acumulam, em sua autoestima profissional, o golpe da promessa feita e não cumprida pelo outro candidato sobre esse mesmo piso salarial.
Pergunto: quem não respeita os professores vai respeitar a quem? Que compromisso com o futuro do Rio Grande tem quem não se compromete com os responsáveis pelo ensino dos nossos jovens? Zombar ou não cumprir uma promessa, o que é pior? Senhores candidatos, vocês deveriam ficar em recuperação terapêutica!
Nesse quadro, dia 26 será dia de cidadania. Vamos escolher, dentre os projetos em disputa, os que julgarmos mais adequados nesse momento para o Rio Grande e para o Brasil. E não se engane, pois esses projetos são díspares e o seu voto, seja qual for, poderá trazer importantes conseqüências para sua vida: “em festa de formiga, não se elogia tamanduá”, como escreveu o Renato Terra, da Piauí.
É muita responsabilidade, não é mesmo? Entretanto as coisas estão claras como um tamanduá comendo formiga e cabe a você fazer a sua escolha. E isso é uma conquista da cidadania ativa, pois há 50 anos, em 1964, quando a arma do voto foi calada pelas armas, as pessoas não tinham esse momento que a democracia representativa permite, dentre muitos outros, para o cidadão constituir as decisões políticas da sociedade a qual pertence.
(*) – Hoje acontece o último debate entre os presidenciáveis na televisão. Assistam, será uma boa oportunidade para quem ainda quer refletir sobre o seu voto ou “torcer” pelo seu (ua) candidato (a). E debate a gente assiste ao vivo, porque as edições posteriores feitas pela grande mídia sempre trazem embutidas as preferências ideológicas e os interesses econômicos dos veículos de comunicação. Não podemos esquecer a lição de 1989, daquela edição (tamanduá tomando banho) do último debate presidencial feita pelo Jornal Nacional...
Artigo publicado na secçao de Opinião do jornal Portal de Notícias:
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