João Adolfo Guerreiro
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O "Grêmio" é racista?
O Grêmio é racista?

Na quarta-feira o Grêmio foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva, sendo eliminado da Copa do Brasil. O artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva é claro, responsabiliza os clubes por atos de racismo praticados pelas torcidas nos estádios: “Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”. Mais: “§ 2º - A pena de multa prevista neste artigo poderá ser aplicada à entidade de prática desportiva cuja torcida praticar os atos discriminatórios nele tipificados”.

Logo, era certo que a punição viria, ainda mais sendo reincidente o fato acontecido na Arena no jogo contra o Santos, visto condenação anterior do clube por hostilidades praticadas contra o zagueiro Paulão do Inter, no último Grenal.  Não foi uma punição leve, eis que sem precedentes. Mas fará bem ao clube (1) e ao futebol brasileiro (2):

1 - Legitimará as medidas que este tem de tomar para retirar do seu estádio uma cultura que, se não é de fato racista, acaba por reproduzir signos da mesma e estigmatizar o clube. Propiciará ao Grêmio entrar em plena sintonia tanto com sua história multicultural quanto com o presente da sociedade brasileira. 2 - Abre espaço para esse rigor ser estendido ao que acontece em outros estádios quanto a manifestações racistas e também para toda a forma de preconceito (como a homofobia, por exemplo), que deve ser paulatinamente excluído do futebol em nosso país.

Em relação a suspensão da torcida organizada Geral, não havia outra coisa a ser feita pela direção gremista no momento. O Grêmio devia uma satisfação a seus torcedores, funcionários e jogadores (ídolos de hoje e do passado) afrodescendentes: ações concretas contra o racismo, não apenas notas oficiais. Claro que não é um problema restrito à Geral, que não é uma torcida manifestamente racista. Entretanto, o cântico no jogo de domingo passado, contra o Bahia, foi um ato muito infeliz. E não está mais em consonância com a ideologia multicultural do Grêmio e da maioria de sua torcida, tanto que recebeu uma sonora vaia na Arena.

O Grêmio dá um grande corte na carne, um corte dolorido em uma de suas marcas registradas, mas reafirma o seu multiculturalismo forjado desde os tempos da Coligay, de Lupícínio Rodrigues, de Juarez Tanque, de Everaldo e de Tarciso Flecha Negra, dentre outros personagens de sua história. Claro que ainda há muito a ser feito, e a Geral não pode ser utilizada como bode expiatório de um problema que é muito maior do que uma canção de torcida durante anos entoada no Olímpico e, nos últimos tempos, na Arena.

Não se pode estigmatizar o Grêmio e, por conseguinte, os gremistas de um modo geral, em virtude do comportamento inaceitável de algumas pessoas. O Grêmio não é racista, sua torcida não é racista. A punição sofrida não generaliza sobre estes, ela é específica a um fato analisado sob a luz da legislação igualmente específica. Ninguém quer ser rotulado como racista por compartilhar uma identidade sociocultural esportiva importante no Rio Grande, ou seja, ser torcedor gremista.

Obviamente o Grêmio tem de tomar atitudes firmes para que atos como o ocorrido no jogo contra o Santos sejam banidos da Arena e, seus autores, do quadro social do clube, além de devidamente responsabilizados criminalmente. Isso certamente contribuirá, devido a importância do futebol como fator de sociabilidade no Brasil e no Rio Grande do Sul, para a consolidação de uma sociedade livre do racismo e de outros preconceitos.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 03/09/2014
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