João Adolfo Guerreiro
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Foto da praia da Guarita

Preserve Torres


A praia de Torres é, de longe, a mais bela do litoral do Rio Grande do Sul. Atualmente está em curso um debate naquele município que, na minha opinião, diz respeito a todos os gaúchos, visto a importância turística e cultural que aquele ponto de nossa orla marítima tem para nosso estado: está sendo discutida uma alteração no plano diretor da cidade, autorizando a construção de prédios de até 30 metros na região chamada Zona Oito, que compreende de duas a quatro quadras próximas da Praia Grande. Atualmente, nessa região é autorizada a construção de edificações de até 12 metros.

Uma crônica da escritora Martha Medeiros, crítica à alteração, foi o que chamou minha atenção para o fato. “Já viajei bastante e posso dizer que, em termos de belezas naturais, Torres é páreo para vários outros cartões-postais do planeta. As formações rochosas que se estendem da praia da Cal até a praia da Guarita, e as dunas logo atrás, produzem um efeito dramático espetacular. O mar pode não ser cristalino, mas compõe a cena dignamente” – escreveu inicialmente Martha, destacando a pujança natural da praia, para depois acrescentar, sobre as alterações: “Torres parece ter esquecido noções básicas de bom gosto. Quer ser grande sem atentar para o quanto se tornou feia, desprezando sua vocação para ser um hot spot. Cidades feias não atraem visitantes, não geram comentários positivos, não viram destino de lua de mel”. Concordo plenamente.

Belezas naturais como os morros do Farol, do Meio (com suas falésias) e da Guarita são formações ímpares em nosso litoral, que tem na praia da Guarita o seu melhor balneário, mesmo com sua pequena extensão. Entretanto, não se pode descartar o potencial da praia Grande (foto abaixo), a maior de Torres, ladeada pelos Molhes do Rio Mampituba e pela Prainha, e onde a maioria dos veranistas vai banhar-se nas águas do Atlântico ante a Ilha dos Lobos, praticar esportes à beira-mar ou fazer suas refeições nos quiosques, geralmente curtindo uma boa música. E justamente um dos argumentos centrais dos contrários à mudança é de que as novas edificações começariam a fazer sombra na praia já no inicio da tarde, comprometendo sua utilização pelos banhistas no verão.

Interessante notar que são justamente os donos de hotéis e restaurantes que defendem a medida, visto que foi a associação que os representa que encaminhou a proposta para a prefeitura. Por outro lado, mais curioso ainda, entre os que são contrários à medida esta o setor da construção civil local. Mas o debate segue e a prefeita, Nílvia Pereira (PT), afirmou na imprensa estadual que a população continuará sendo consultada sobre o assunto antes do projeto ser encaminhado ao legislativo torrense.

Quem tem por hábito freqüentar Torres já percebeu o quanto a especulação imobiliária vem alterando a característica da cidade. Em alguns hotéis próximos do mar já não se enxerga a praia, mesmo dos quartos mais altos. Até ver a Lagoa do Violão se tornou um privilégio para poucos hóspedes. A gente fica olhando aqueles edifícios enormes, um a tapar a vista do outro, e pensa estar presenciando uma guerra silenciosa pelo monopólio da vista da praia, como se vê-la fosse melhor que usufruí-la e indicador de maior status social.

Até aí, tudo bem, eis que briga de tubarões. Só que, agora, essa disputa passa a comprometer a liberdade e o gozo dos peixinhos que, igualmente, são criaturas de Deus a usufruir a plenitude de sua criação.

Em primeiro plano, a Prainha; ao fundo, a praia Grande.

Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenoticias.com.br
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 10/08/2014
Alterado em 10/08/2014
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