Não se deprecie, Brasil – parte 1.
Encerrada a Copa do Mundo, vamos abordar nessa primeira parte o aspecto futebolístico da participação do Brasil na mesma.
A Copa que o Brasil compraria, segundo a tese conspiratória de muitos, foi vencida pela Alemanha. Será que Angela Merkel pagou em Euro à Fifa? A Copa que seria o caos em termos de organização, foi elogiada nesse aspecto até pelo insuspeito Diego Maradona. Onde estão agora os arautos da desgraça, encastelados na grande mídia? O Brasil, fora de campo, fez uma Copa vitoriosa em 2014, mesmo gastando muito para isso, ao estabelecer doze sedes em vez de oito, como queria a Fifa.
Se fora de campo as coisas contrariaram a expectativa dos pessimistas de plantão, dentro de campo elas ficaram aquém do esperado. E o esperado era, depois do título da Copa das Confederações conquistado em 2013 sobre a então campeã mundial Espanha, o hexacampeonato. Uma expectativa alta. Só que a Copa das Confederações, como se diz no jargão popular do futebol, enganou a torcida. Espanha (a maior decepção da Copa) e Itália pararam já na primeira fase da Copa 2014, mesma situação do Japão. México, Uruguai e Nigéria, igualmente, não foram longe. Somente o Brasil, o campeão, ficou entre os quatro finalistas na Copa do Mundo.
Se o hexa não veio, por outro lado, foi a melhor participação do Brasil desde a Copa de 2002. Em 2006, na Alemanha, e em 2010, na África do Sul, caímos nas quartas de final. Entretanto, a goleada acachapante e sem precedentes sofrida contra a Alemanha na semifinal, 7x1, vai ser uma marca que ficará na história e na memória. A geração de 1950, do “maracanazo”, já pode descansar em paz e passar a cruz para o pessoal de 2014, que fez pior em casa. O “escore simples” de 3x0 na última partida, contra a Holanda, foi o epílogo triste de um romance que começou como um sonho em 2013 e terminou em pesadelo.
No futebol, glórias e traumas são virtuais, pois ninguém morre depois dos jogos e a vida continua igual para todos. E o Brasil ainda é o único pais pentacampeão, mesmo que a histeria de nossa imprensa esportiva faça terra arrasada e diga que temos que aprender o que é futebol com os atuais campeões, esses mesmo que, desde 1990, não levantavam um caneco em Copa do Mundo, tempo em que o Brasil foi duas vezes campeão: 1994 e 2002. Futebol é momento, mas mas não sejamos tão radicias, devemos estender um pouco o período de análise e de avaliação.
Felipão e Parreira, últimos treinadores campeões mundiais à frente da Seleção, agora são execrados. Nada mais típico em nosso futebol: quando vence, o profissional é o maior do mundo e todos o bajulam; quando perde, vira burro e é execrado publicamente. Não podemos ser tão imediatistas assim.
Ou será que o nosso futebol arte, moleque e malandro, está no fim? Onde estão nossos talentos, jogadores dotados de excepcional habilidade, dos quais Neymar é o único exemplar disponível na atual geração?
Décadas atrás, quando aluno de uma escola do ensino médio em Porto Alegre, tive o prazer de assistir a uma palestra de Lauro Quadros e Ruy Carlos Ostermann. Algo que o último falou naquela ocasião nunca mais saiu de minha cabeça: que devido ao escasseamento dos espaços públicos para a prática do futebol nas cidades, a grande característica de nosso país, ou seja, a excepcionalidade técnica de seus jogadores, iria diminuir. Com menos campinhos, essa fábrica “natural” de ouro e diamantes humanos para o esporte, menor número de craques. Em minha cidade, por exemplo, percebo que todos aqueles lugares onde antes jogávamos bola o dia todo quando crianças, estão urbanizados. Em outras palavras: o desenvolvimento do país fez mal para nosso futebol. Incrível isso, não é mesmo?
Talvez a grande lição dessa Copa que a campeã Alemanha tenha a nos dar seja: planejamento. Todavia, não precisamos cair no conto do vigário de que estamos iniciando do zero. Que isso rapaziada, ainda somos o país do futebol!
Continuo com o assunto na semana que vem.
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br