“Vocês deveriam ler essa entrevista” - essa é a segunda vez que escrevo isso aqui no Portal. A primeira foi para uma entrevista de José Júnior para a revista Trip de setembro do ano passado. Agora é para a de Camille Paglia às páginas amarelas da Veja de 5 de março desse ano. Não por defender o conteúdo, mas sim pelas inusitadas declarações.
Não sou leitor de Veja. Carta Capital e Caros Amigos (onde o Marcos Bagno tem coluna) são minhas preferências ideológicas. Entretanto, quando vi a foto de Paglia no canto superior direito da revista, com a frase que dá título a esse artigo embaixo, não pensei duas vezes. Ela é uma polêmica e combativa intelectual, esteve em moda nos anos 1990. Foi a primeira que, por exemplo, destacou a relevância cultural do trabalho artístico da Madonna. Claro, até a temperamental diva pop dizer que Paglia era um chá de m&#*@.
“Hoje, elas querem que o homem seja igual à mulher. Querem falar com ele do mesmo jeito que conversam com as amigas. Isso é com os gays! Os gays conversam por horas. Fofocam, falam sobre a vida pessoal... os héteros não. Eles não querem aprofundar-se nos sentimentos” - tasca Paglia na entrevista, para depois arrematar: “Famílias de classe média são basicamente ambientes femininos. Tudo é bom e gentil, e os homens tem de mudar o seu comportamento para se encaixar nelas. As mulheres pedem a eles que sejam o que não são e, quando eles se tornam o que não são, não os querem mais”.
Como os homens lidam com isso? Informa a escritora: “Sentem-se sufocados e precisam estar com outros homens. Aí entram a pornografia,os clubes de strip-tease, os esportes: é quando os homens escapam para o mundo deles. Chutar uma bola no meio do campo é muito revigorante e bom para escapar das mulheres”.
Analisando as sociedades inglesa e estadunidense, a gênese desse predomínio feminino, para Paglia, está na escola: “Valores femininos como cooperação, sensibilidade e compromisso hoje são promovidos em todas as escolas […]. Fico preocupada com isso. Não é responsabilidade escolar moldar ou influenciar o caráter dos alunos. Então, sim , há uma vitória feminina no sistema de educação, e é por isso que tantos meninos se sentem sufocados ou presos nesse ambiente governado por mulheres”, mesmo acentuando que, ainda, “nosso mundo político e econômico certamente não é regido pelas mulheres”.
Todavia, essa mudança de mentalidade traz consequências no âmbito da gestão da sociedade, eis que “no que diz respeito aos governos ocidentais, por exemplo, a tendência é agirem no estilo 'estado-babá', cheios de complacência e cuidados, atributos associados ao universo feminino. Só que isso está incapacitando as nações de ficar seriamente em alerta contra as ameaças do terrorismo, por exemplo. […] Várias grandes civilizações entraram em colapso por se apresentar vulneráveis. […] ...as maiores conquistas nas áreas da tecnologia ainda requerem certos traços masculinos, bem como planejar a defesa de uma sociedade sob ameaça de ataque.” Cleópatra, Catarina a Grande, Rainha Vitória, Golda Meir, Margaret Tatcher e Angela Merkel talvez discordem dela...
A propósito, em sua análise dá um toque sobre nosso país: “O Brasil não tem a mesma obsessão militar que os Estados Unidos, por isso vocês tem uma mulher presidente”.
A entrevista tem muito mais, claro. Tipo: “Bem, achar que as mulheres profissionalmente bem-sucedidas são o ponto máximo da raça humana é ridículo. Vejo tantas delas sem filhos porque acreditaram que podiam ter tudo: ser bem-sucedidas e mães aos 40 anos. Minha geração inteira deu com a cara na parede. Quando chegarmos aos 70, 80 anos, acredito que a felicidade não estará com as ricas e poderosas, mas com as mulheres de classe média que conseguiram produzir grandes famílias”.
Eu avisei no início do artigo, é uma entrevista da Veja...
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br