A taxa à tache
A sessão...
Governistas, antigovernistas, ingovernáveis e desgovernados: todos contra a taxa.
Edis, acuados e acusados, digladiando-se na arena-plenário: todos contra a taxa.
Vozes, protestos, cobranças, acusações, defesas, silêncios: todos contra a taxa.
Argumentos, palavras ditas, palavras não ditas, meias palavras, subterfúgios: todos lá, contra a taxa.
Exclamações, indagações, parênteses, virgulas e reticências rumo ao ponto final: todos lá, contra a taxa.
A taxa, taxativa e tAxicômana. A taxa, sedenta por mais: overdose fiscal.
A taxa: vilã! Opróbrio arrecadatório. A taxa: lixo, resíduo.
Quem são as mães? Quem são os pais? Eu não! Eu não!
Quem a obriga? Quem a faculta? A federal? O municipal? Eu não! Eu não!
A taxa é órfã, é amaldiçoada. A taxa é lixo, é resíduo. A taxa é a Geni!
O povo acordou, o povo não quer, o povo rejeita. O povo não quer pagar nada.
O povo brada, o povo caminha, o povo protesta, o povo se manifesta.
O projeto é apresentado. Todos assinam o projeto. O projeto é um projétil, o alvo é a taxa. Todos contra a taxa.
O projeto-projétil é aprovado-disparado. A taxa é alvejada, fuzilada. Todos no pelotão de fuzilamento, todos lá, contra a taxa.
A taxa agoniza. Mortalmente ferida? Sobreviverá na UT(axa)I, em coma, moribunda? Ressuscitará ao 15° dia?
O povo aplaude, o povo vibra, o povo canta. A sessão termina. Todos felizes. Menos a taxa (Talvez alguém mais?).
A rua...
O povo volta para a rua, o povo protesta. “Não era só por vinte centavos”, não é só por quinze reais. É por mais, muito mais. É pela sua voz, é pelo seu bolso, é pela determinação da sua vida. A taxa é só o pretexto. A cidadania ativa pega preço: o Brasil mudou, Charqueadas já não é a mesma.
O povo caminha, o povo protesta. O povo passa pela rua periférica, rumo à casa da família. A casa do prefeito é a prefeitura. O que o povo faz na casa da família? A casa do prefeito é a prefeitura, a casa da família é a casa da família. O povo confunde as coisas.
O povo joga lixo na casa da família. O povo coloca cartazes na casa da família. O povo intimida, o povo acua: a família. A casa do prefeito é a prefeitura, a casa da família é a casa da família. O povo confunde as coisas, o povo viola a democracia. Recalcitra, pela segunda vez. Erro repetido.
Epílogo...
O municipal dá o tiro de misericórdia: todos contra a taxa. A taxa jaz. Patricídio, matricídio: todos contra a taxa. Rejeitada, renegada, linchada, morta. O final da taxa foi taxativo!
O povo comemora, o povo vibra. “Não era só por vinte centavos”, não era só por quinze reais. Era por mais, muito mais. Era pela sua voz, era pelo seu bolso, era pela determinação da sua vida: era por cidadania! A taxa era só o pretexto. A cidadania ativa pega preço! O Brasil mudou? Charqueadas já não é a mesma?
(Plein air, “puro olho”, tache... Ah Renoir, é tudo impressionismo: O Baile no Moinho da Galette e O Almoço dos Barqueiros! Ou seriam As Parisienses Vestidas como Argelinas? …? Todavia, o povo aplaude, o povo vibra, o povo canta; capta a luz sobre a água.)