Crônica é vida
Quero, de início, neste primeiro texto do ano, desejar um ótimo 2014 para todos.
Numa retrospectiva pontual, poderia dizer que, na cidade em que resido, o ano de 2014 começou melhor que 2013. Em meu primeiro texto no ano passado, “Vereadores, eleições e democracia”, comentava de minha surpresa ante o ocorrido na composição das comissões permanentes no Legislativo de Charqueadas. Pois os (as) vereadores (as) alteraram a Lei Orgânica, garantindo a pluralidade na composição das mesmas. Ponto para 2014.
E começo o ano falando de crônica. Crônica é vida. Esse gênero literário tem tudo a ver com verão e, para quem estar de férias, ler um com cronista é uma boa opção. No meu terceiro artigo de 2013 aqui no Portal de Notícias, “Para gostar de ler o Velho Braga”, abordei esse assunto a propósito dos cem anos de Rubem Braga. E ao iniciar 2014 mais uma vez com a crônica, novamente escrevo sobre o cronista Paulo Sant’Ana, do qual já disse algo em “Lágrimas de areia”, publicada 28.01.2013. É que estou lendo “Eis o homem”, seu livro de 2010, que reúne 55 crônicas que contam sua história de vida. Realmente, muito bom o Sant’Ana.
A melhor parte de “Eis o homem” é, opino, a primeira, na qual ele fala de sua infância. Lendo-a, percebo que a infância foi muito parecida por várias gerações, comparando a minha com a dele, sendo que temos trinta anos de diferença. O que a gente vem observando nos últimos dez anos é algo totalmente novo na maneira como as famílias lidam com a infância. As formas de sociabilidade vem se alterando bastante desde a última década do século XX. Ao lermos as crônicas de Sant’Ana, isso fica mais claro ainda. Recomendo a leitura de “Eis o homem”.
Mudando um pouco de assunto, em 2014 temos os cem anos de Lupicínio Rodrigues. Nascido em 16 de setembro de 1914, um dia depois da data em que se comemora o aniversário do seu time do coração, o Grêmio. Logo, outro tricolor, ao lado de Sant’Ana. Inclusive, todos sabem, é o compositor do hino do clube. E também de uma parcela de grandes canções populares, que ele criava batucando numa caixinha de fósforos, instrumento à época comum para muitos sambistas que não tocavam um instrumento. Muito bom tocar, acompanhando-se ao violão, canções como “Nervos de aço”, “Se acaso você chegasse” e “Felicidade”, para citar algumas.
O grande barato de Lupi, no meu ponto de vista, é que ele era essencialmente um compositor que ficou famoso. Hoje, os compositores ficam marginalizados, só os intérpretes ganham notoriedade. E suas canções eram, além de poéticas, pura crônica, eis que relatavam as venturas e desventuras dos amores cotidianos da Porto Alegre boêmia de sua época.
E ainda falando de personalidades marcantes, uma nota triste: o falecimento do carismático ex-prefeito Aldo “Baratão” Moreira dos Santos. Personagem charqueadense de destaque no século XX, como líder sindical mineiro e político, participou da emancipação da cidade em 1982 e ocupou a chefia do Executivo de 1988 a 1992.
Reproduzo aqui parte do pertinente testemunho sobre ele feito pelo sr Nelci de Moraes no Facebook: “Morreu um pedaço de Charqueadas, pessoa que marcou sua trajetória nesta terra só proporcionando o bem. Quem não lembra daquela figura alegre, espontânea, cativante, sempre estendendo a mão a quem precisava, (...) morreu pobre porque nunca colocou seus interesses acima dos seu semelhante, antes pelo contrario, desprovido de vaidades cavalgou o curso da vida estendendo a mão a quem o procurava, jamais pensou em si próprio. Aí estava um homem de bem (...)”.
Crônica é vida. Fala sobre a vida.
Publicado no jornal Portal de Notícias de 7 de Janeiro de 2014.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 13/01/2014