João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Textos
Santa Bárbara e o feriado
Impossível não escrever sobre esse assunto, que pode ser definido na sessão de hoje do Legislativo Municipal de Charqueadas. Um projeto encaminhado pelo Executivo, conforme solicitação da CDL, CICS, Usina Termelétrica de Charqueadas, GKN, Gerdau e do pároco local, propõe a extinção do feriado municipal em homenagem à Santa Bárbara, em 4 de dezembro, pelo de Corpus Christi, feriado móvel, que ocorre no meio do ano (em 2013, em 30 de maio).
Em suma, lendo o documento dos solicitantes, podemos concluir que o feriado, hoje, atrapalha os negócios. Já o padre afirma que a devoção maior na comunidade católica local atualmente é a de Corpus Christi. São argumentos pertinentes, bem fundamentados. Todavia, é curioso notar a repercussão que a troca do feriado causou na comunidade, principalmente entre os cidadãos que se denominam católicos. Tanto que uma audiência pública sobre o tema foi realizada na Câmara de Vereadores. E isso tudo não é de “graça”, seja o sentido que possamos dar ao termo.
Santa Bárbara, ou Bárbara de Nicomédia, foi uma jovem virgem turca, martirizada devido a sua conversão ao cristianismo, no final do século III. Diz-se que, durante sua terrível execução, um raio caiu dos céus e matou seu pai, seu principal algoz e delator. Assim, é protetora em ocasiões de raios, trovões e tempestades e padroeira, dentre outros, dos mineiros. Nesse exato ponto está sua ligação com Charqueadas e a motivação do feriado, devido a Charqueadas ter tido um forte ciclo econômico mineiro em sua história.
Charqueadas, bem sabemos ao ler livros como os de Benedito Veit e Saldino Pires, teve três ciclos econômicos fundamentais: o do charque, nos seus primórdios, o minerador e o metal-mecânico, os dois últimos no século passado. Se charqueadores só encontramos nos livros dos autores acima citados, mineiros podem ser vistos pela cidade, vivos, contando suas histórias, dando seu testemunho sobre o tempo em que desciam mais de 300 metros para retirar do subsolo o carvão mineral que era o “ouro negro” da economia de então e que fez Charqueadas o que ela é hoje, por todas as grandes empresas que para a cidade vieram a fim de utilizar o combustível fóssil. Uma equipe de futebol tradicional na cidade, inclusive, tem esse nome: Ouro Negro.
Não é a primeira vez que a Padroeira dos Mineiros encontra-se envolvida em polêmicas locais. Há poucos anos, a colocação de uma estátua da Santa no Parcão da cidade gerou contrariedades. Essa Santa Bárbara venceu (foto acima). E, agora, com a proposta de troca do feriado tramitando no Legislativo, algumas pessoas chegaram a dizer que uma tempestade que recentemente assolou a cidade foi sinal do descontentamento da Santa. Mistérios...
Mas a troca do feriado e a resistência ao mesmo não guardam mistério algum, as cartas estão sobre a mesa, às claras. Além de um feriado religioso, o dia 4 de dezembro tem componentes culturais, econômicos, políticos e históricos para grande parte da população de Charqueadas. Segundo o Censo de 2010, 65% da população de Charqueadas é Católica. Prefeito e vereadores foram (e ainda são) eleitos em virtude do seu envolvimento com a classe trabalhadora mineira. O feriado passou a fazer parte da cultura local, devido ao período histórico em que foi criado, o ciclo econômico minerador, embora, hoje, a realidade econômica seja outra.
Mesmo não sendo católico, de família mineira ou comerciante/comerciária, prefeito, vereador ou padre, eu manifesto minha posição: sou, a princípio (salvo argumento mais convincente), favorável a manutenção do feriado do dia 4 e entendo que um plebiscito seria o único caminho ideal para se alterar uma data tão significativa para grande parte da população da cidade. Não que vereadores e vereadoras e prefeito não tenham legitimidade para tal ou que devam ser “crucificados” devido à posição que porventura tomarem, creio apenas que o bom senso político e social determina a realização do plebiscito para esse caso, dada sua complexidade e importância.
No mais, nesse último artigo de 2013, desejo um Natal bem bacana e um 2014 muito legal para todos os leitores, proprietários, funcionários e colaboradores do Jornal Portal de Notícias. Que Deus (e Santa Bárbara) ilumine a todos. Um grande abraço e até o dia 7 de janeiro.
Texto publicado em 17 de dezembro de 2013 no jornal Portal de Notícias: http://www,portaldenoticias.com.br
Impossível não escrever sobre esse assunto, que pode ser definido na sessão de hoje do Legislativo Municipal de Charqueadas. Um projeto encaminhado pelo Executivo, conforme solicitação da CDL, CICS, Usina Termelétrica de Charqueadas, GKN, Gerdau e do pároco local, propõe a extinção do feriado municipal em homenagem à Santa Bárbara, em 4 de dezembro, pelo de Corpus Christi, feriado móvel, que ocorre no meio do ano (em 2013, em 30 de maio).
Em suma, lendo o documento dos solicitantes, podemos concluir que o feriado, hoje, atrapalha os negócios. Já o padre afirma que a devoção maior na comunidade católica local atualmente é a de Corpus Christi. São argumentos pertinentes, bem fundamentados. Todavia, é curioso notar a repercussão que a troca do feriado causou na comunidade, principalmente entre os cidadãos que se denominam católicos. Tanto que uma audiência pública sobre o tema foi realizada na Câmara de Vereadores. E isso tudo não é de “graça”, seja o sentido que possamos dar ao termo.
Santa Bárbara, ou Bárbara de Nicomédia, foi uma jovem virgem turca, martirizada devido a sua conversão ao cristianismo, no final do século III. Diz-se que, durante sua terrível execução, um raio caiu dos céus e matou seu pai, seu principal algoz e delator. Assim, é protetora em ocasiões de raios, trovões e tempestades e padroeira, dentre outros, dos mineiros. Nesse exato ponto está sua ligação com Charqueadas e a motivação do feriado, devido a Charqueadas ter tido um forte ciclo econômico mineiro em sua história.
Charqueadas, bem sabemos ao ler livros como os de Benedito Veit e Saldino Pires, teve três ciclos econômicos fundamentais: o do charque, nos seus primórdios, o minerador e o metal-mecânico, os dois últimos no século passado. Se charqueadores só encontramos nos livros dos autores acima citados, mineiros podem ser vistos pela cidade, vivos, contando suas histórias, dando seu testemunho sobre o tempo em que desciam mais de 300 metros para retirar do subsolo o carvão mineral que era o “ouro negro” da economia de então e que fez Charqueadas o que ela é hoje, por todas as grandes empresas que para a cidade vieram a fim de utilizar o combustível fóssil. Uma equipe de futebol tradicional na cidade, inclusive, tem esse nome: Ouro Negro.
Não é a primeira vez que a Padroeira dos Mineiros encontra-se envolvida em polêmicas locais. Há poucos anos, a colocação de uma estátua da Santa no Parcão da cidade gerou contrariedades. Essa Santa Bárbara venceu (foto acima). E, agora, com a proposta de troca do feriado tramitando no Legislativo, algumas pessoas chegaram a dizer que uma tempestade que recentemente assolou a cidade foi sinal do descontentamento da Santa. Mistérios...
Mas a troca do feriado e a resistência ao mesmo não guardam mistério algum, as cartas estão sobre a mesa, às claras. Além de um feriado religioso, o dia 4 de dezembro tem componentes culturais, econômicos, políticos e históricos para grande parte da população de Charqueadas. Segundo o Censo de 2010, 65% da população de Charqueadas é Católica. Prefeito e vereadores foram (e ainda são) eleitos em virtude do seu envolvimento com a classe trabalhadora mineira. O feriado passou a fazer parte da cultura local, devido ao período histórico em que foi criado, o ciclo econômico minerador, embora, hoje, a realidade econômica seja outra.
Mesmo não sendo católico, de família mineira ou comerciante/comerciária, prefeito, vereador ou padre, eu manifesto minha posição: sou, a princípio (salvo argumento mais convincente), favorável a manutenção do feriado do dia 4 e entendo que um plebiscito seria o único caminho ideal para se alterar uma data tão significativa para grande parte da população da cidade. Não que vereadores e vereadoras e prefeito não tenham legitimidade para tal ou que devam ser “crucificados” devido à posição que porventura tomarem, creio apenas que o bom senso político e social determina a realização do plebiscito para esse caso, dada sua complexidade e importância.
No mais, nesse último artigo de 2013, desejo um Natal bem bacana e um 2014 muito legal para todos os leitores, proprietários, funcionários e colaboradores do Jornal Portal de Notícias. Que Deus (e Santa Bárbara) ilumine a todos. Um grande abraço e até o dia 7 de janeiro.
Texto publicado em 17 de dezembro de 2013 no jornal Portal de Notícias: http://www,portaldenoticias.com.br
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 16/12/2013
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