João Adolfo Guerreiro
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Carros de som e outros temas polêmicos da crônica local

Poluição sonora é um dos temas mais atuais desse nosso mundo urbano. Em Charqueadas não é diferente. Andando pelas ruas do centro, alguns comerciantes locais reclamam pra mim dos carros de som passando em frente aos seus estabelecimentos a toda hora em alto volume, principalmente nas sextas e sábados. “Um martírio”, lamentam, reivindicando: “Alguém tem de fiscalizar isso”!

No último sábado, eu fui acordado às 10 horas por um carro de som de um “obreiro de Jesus”. O homem parou o seu carro de som e conclamava, em ótimo volume (na opinião dele, com certeza) para um culto que se realizaria em algum lugar próximo naquele dia. Eu havia passado uma sexta-feira triste em família, acompanhando o funeral de uma pessoa muito querida, e estava descansando depois uma madrugada insone. Tinha o direito de não ser incomodado no sábado de manhã por aquele ser impiedoso e egoísta, mesmo que imbuído da certeza de sua fé no Cristo.

Pensei: Jesus, no seu tempo, não dispunha de carro de som, mas deu muito bem o seu recado, tanto que o Sermão da Montanha ecoa até hoje, quase dois mil anos depois. Logo, o som alto não tem nada a ver, creio, com as alturas celestiais. Um saudoso amigo me ensinou: “João, quando estiveres falando em público, não adianta levantar a voz para ser escutado. Fale num tom calmo e médio que as pessoas vão silenciar para ouvi-lo. Ou não fale, se elas não silenciarem”.

Mas voltando aos carros de som, estava, quinta passada, subindo a avenida 1º de Maio de táxi. Um carro de som ia lento à nossa frente. Como o taxista não conseguia ultrapassá-lo ficou irritado e buzinou. Ao final da rua, ao conseguir espaço para passar, reclamou em voz alta com o motorista do carro, que respondeu: “Eu estou trabalhando, tchê”!

Realmente, poderia estar roubando, assaltando, traficando, mas estava ali, trabalhando. Da mesma forma que os operários que constroem presídios abaixo de sol e chuva. Trabalham árdua e pesadamente, recebem pouco, levantam prédios que vão abrigar quem prefere não labutar para ganhar seu sustento. Impossível não reconhecer a dignidade de quem trabalha. Logo, uma questão com dois lados. A legislação municipal que decida a respeito.

Falando na 1º de Maio, surge outra questão, a do seu projeto de revitalização. Polêmico, com dois lados. Vários motoristas e populares já criticaram a alteração feita, principalmente pelos canteiros colocados no meio da rua (estes, um folclore popular a parte, pois as pessoas conjecturavam jocosamente, antes dos mesmos ficarem prontos, se seriam churrasqueiras ou aquários), que limitam mais o trânsito, impedindo ultrapassagens, como aconteceu no caso relatado acima. Do ponto de vista de um pedestre, achei legal a rua, ficou mais lenta, as calçadas melhoraram, seu aspecto ficou mais bonito. Entretanto, quando pedalo por ali, sinto esse estreitamento, principalmente quando caminhões e ônibus estão circulando. Ela ficou inóspita para os ciclistas.

E por falar nas calçadas e ciclistas, sistematicamente vejo os segundos circulando pelas primeiras, num total desrespeito às leis de trânsito. No centro, tempos atrás, flagrei um rapaz passar “voando”, colocando em risco a integridade física uma senhora idosa de quem tirou um “fininho”, Absurdo! Igual a andar na contramão (Ah, ciclistas, aprendam!) ou não ceder lugar para gestantes, deficientes e idosos em ônibus, fato que também presenciei na última quinta, ao pegar o 07h50min para São Jerônimo: jovens, moços e moças, impassíveis ante duas senhoras de idade em pé. Que solidariedade e espírito cidadão podemos esperar dessas pessoas no futuro?

Cada cidade é uma totalidade imersa no mundo. Era isso. Até terça que vem.

Texto publicado no Jornal Portal de Notícias em novembro de 2013

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 16/12/2013
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