7 de Setembro, o desfile
Está causando (saudável) polêmica o cancelamento, pela prefeitura, do desfile de 7 de Setembro em Charqueadas. Não é de hoje que esse assunto gera acalorados debates na cidade, e entendo que isso é salutar para pensarmos a respeito da democracia e do civismo.
Quando garoto, só gostava de desfilar se fosse na banda; do contrário, detestava, achava sem nenhum sentido, pois aquela parada paramilitar nunca representou meu sentimento nacional, principalmente porque era uma imposição: éramos obrigados a “marchar” dia 7. Se chovesse e o desfile fosse cancelado, que alegria!
Continuo não sendo um adepto do desfile do dia 7, embora hoje, como não sou mais convocado para este, curto assisti-lo, eis que é uma das atrações públicas e de interação da nossa comunidade. Também mantenho a opinião de que existem atividades mais interessantes para se fazer no dia em que homenageamos a independência do nosso Brasil brasileiro, como eventos artístico-culturais, por exemplo.
A parte minhas subjetividades sobre o assunto, o fato é que a motivação apresentada para o cancelamento pela prefeitura é a possibilidade de ocorrer protestos no dia. Não deixa de ser um argumento válido e pertinente, visto que os jornais estaduais e nacionais especulam sobre isso em matérias e editoriais. Só faço uma ressalva: os protestos realizados esse ano em Charqueadas não registraram incidentes.
Em primeiro lugar, isso é o reconhecimento da força cidadã que aflorou em junho em todo o país, reivindicando nas ruas, à sua maneira (às vezes via o inaceitável vandalismo), um Brasil melhor e mais digno para os brasileiros. Em segundo lugar, traz à tona no debate político público local qual o entendimento sobre democracia e civismo que praticamos. É democrático a prefeitura cancelar o desfile? É democrático o desfile ser uma imposição para as escolas? É falta de civismo cancelar o desfile do Dia da Pátria? Não existem outras formas válidas e adequadas de homenagear e lembrar o Grito do Ipiranga?
Em uma administração passada (se não me engana a memória, a de 1997-2000), polêmica parecida aconteceu quando o governo de então facultou às escolas e a suas respectivas comunidades escolares decidirem o que fazer no dia. Outras atividades, que não o desfile, prevaleceram. Os vereadores de oposição, maioria à época, proporam e aprovaram uma lei tornando obrigatório o desfile de 7 de Setembro na cidade.
Penso que as atividades cívicas da Semana da Pátria devam ser mantidas, contudo sou frontalmente contra a obrigatoriedade do desfile. Que seja facultado a entidades, órgãos públicos e escolas o direito de realizá-lo se assim quiserem. No caso das escolas, por respeito tanto à construção de uma noção de democracia cidadã quanto ao princípio da gestão democrática das instituições de ensino, entendo que a decisão acerca de qual atividade fazer no dia 7 ocorra pelo voto direto de professores, funcionários, pais e alunos, que são os que vão ter de esquentar a moringa sob o sol no dia. Uma alteração na legislação municipal seria o caminho para isso.
Assim, cada brasileiro poderá expressar seu apreço pátrio pela forma consensuada em seu coletivo, evitando-se imposições a favor ou contra a realização de desfiles ou de qualquer outra forma pública de comemorar o Dia da Independência do nosso Brasil. Não seria algo bem interessante a se fazer no ano que vem? É o que eu penso, com todo o respeito as opiniões contrárias.
Texto publicado na seção de Opinião do Jornal Portal de Notícias http://www.portaldenoticias.com.br